Meus camaradas, sabem que desde o incidente da prisão do ForzaRio na estrada, o que tem quase um ano, eu perdi o tesão de passear de moto por aquelas bandas. Ou por outras também, apesar de andar todo dia de scooter ou moto para ir a faculdade, trabalho e tudo o mais, já que é impossível andar de carro no Rio de Janeiro sem se aborrecer e levar multas. Mas Rolé, estradinha… tinha meses que eu não me aventurava.
No sábado passado o meu amigo e colecionador Bernardo me convidou para ir ao Gallery e ajudar a colocar sua coleção para andar. Eu o admiro muito por isso, pois ele coleciona as motos e as usa, todas funcionando. É muito mais legal assim. De Honda 1000cc ele fez um “quiver” interessante, pois tem uma GL 1000 com 4 cilindros boxer, uma CBX com 6 cilindros em linha e recentemente comprou esta moto rara no Brasil, a CB 1000 Custom, com o 4 em linha DOHC de tampas quadradas, como uma Bold’Or. E 4 em linha é sinônimo de Honda, é que ela mais fez e faz, e a CB750F original foi o que jogou a Honda para o nível em que ela está até hoje. Rainha dos 4 tempos multicilindros.
E fomos de CBX e CB, junto com o pessoal do Rio Retro Moto e suas Triumph’s. Muito bacana o pessoal e o passeio. Mas vamos a moto.
Não gosto muito de ficar dando ficha técnica, mas como a moto é antiga e rara, difícil de encontrar por aí, faz sentido explicar do que se trata. A CB 1000 Custom tem um motorzão de duplo comando que produz 89 Cv’s, uma potência já bem respeitável, ainda mais na época, a moto é 1983. Ela usa eixo cardã e suspensões com auxílio a ar na frente e atrás. Vc pode dar uma pressurizadinha para endurecer a bruta. Na frente ainda tem um precário e ineficiente sistema de anti-mergulho, que cismaram que era uma necessidade na época. Depois provou-se inútil, ninguém usa faz tempo. Guidãozão, painezão, banco confortável e um peso considerável para manobrar no muque. Já não tem platinados.
Mas sua grande diferença frente as outras motos é ter 10 marchas. Sim! 10 marchas e é possível usar todas elas, embora não seja prático nem necessário. São 2 grupos de 5 marchas, e ela tem um pedal extra onde vc passa de um grupo curto para o grupo longo. Tecnicamente um overdrive antes do cardã.
E vamos andar com bruta. Como falei, é muita responsa usar as queridinhas do Bê, tomo todo o cuidado do mundo e é uma Honda 1000 do século passado, grandona e pesadona. Não é difícil colocar e tirar no descanso central. As descargas 4 em 4 são MUITO silenciosas e o motor, apoiado sobre coxins de borracha, vibra muito pouco. Fomos encontrar o grupo na Lagoa e o motor frio saiu com a carburação hesitante entre 2 e 3 mil giros, mas com o aquecimento ele alisou completamente.
Saí com as 5 marchas mais curtas e toda a sensação de peso desaparece, pois o motor é amigão e a moto muito confortável de usar. Esquenta muito pouco para o tamanho do motor e para o clima do Rio de Janeiro. Ao pegar a estrada mudei para as marchas longas, a desmultiplicação é grande e o giro fica bem baixinho. A moto é muito silenciosa e ajudada pela ausência de corrente. Nós não percebemos como as correntes fazem barulho até usarmos moto com cardã. As correntes tem um som constante e ao passar por buracos elas batem e chacoalham. Dentro da normalidade nós não percebemos isso, é natural, faz parte dos ruídos normais de qualquer moto com corrente. A CB 1000 Custom não tem isso, ela desliza como um tapete mágico. Poltronão.
A posição de dirigir, apesar de confortável, não é das melhores não, os joelhos ficam muito prá cima e em me vi procurando posição nela, em pouco tempo. Acho que as pedaleiras são muito recuadas para o estilo do guidão. Bom que dá uma esportividade mínima que pedaleiras avançadas não deixam.
Pegamos a subida da Serra completamente molhada, uma das condições mais desafiadoras que já peguei naquele trecho. Estava muito escorregadio e os pneus clássicos da CB 1000 dão um feedback NULO. As suspensões são competentes e os freios são… clássicos. O freio dianteiro tem potência medíocre, um ataque péssimo e um feedback mínimo. Mas é isso que se tinha na época, freios são uma parte da moto que avançaram muito mais do que motores, por exemplo. O freio traseiro é grande e OK.
Visitamos o Guaraci, que está ótimo, e na volta, na descida com pista seca, senti-me mais confiante para acelerar e curvar um pouco mais, sobre o olhar atento do dono, logo atrás com sua CBX 1050. E deu tudo certo, ela aguenta uma tocada mais rápida mas respeitosa e o motor é um foguete. Com 89 CV’s ela já anda o suficiente para correr bastante, para dar cadeia, para cassar a carteira.
Parabéns Bernardo pela aquisição, a moto está novinha, muito boa e sua coleção de Hondas 1000 um estouro. Agora acho que só falta uma V2 como a R51 ou SuperHawk, mas acho que estas são muito novas para o seu gosto. Me convida sempre que eu vou.
Mário Barreto