E, seguindo todas as indicações que começaram a ser construídas desde o primeiro treino de sexta-feira, Marc Marquez dominou o GP espanhol em Motorland Aragón. Novamente largou da pole-position, novamente largou bem para caramba, novamente fez a primeira curva na ponta e novamente abriu uma vantagem enorme. Novamente em certo momento da prova, logo no início, Martinator tentou tirar uma pressão, e novamente levou uma melhor volta nos cornos, sossegando feliz com seus 20 pontos. Era o melhor que dava para fazer hoje.

Marc Marquez em sua entrevista no parc-fermé disse que foi difícil gerenciar toda esta diferença sem perder o foco. Imagino, estas motos são difíceis de pilotar e qualquer vacilo ou desconexão, é chão. Quem já pilotou sabe que os pilotos tem uma conexão completa com a moto e pneus, um sentimento total que é utilizado para detectar e usar o grip disponível. Como disse meu mestre Keith Code, “everything you do on the bike, you do for the grip”. Sobre a qualidade desta previsão de aderência na hora e a aderência futura é que se constroem as vitórias.

Mas Marc Marquez é um piloto experiente, dominou a sua moto, sentimentos e sentidos, e finalmente voltou a ganhar depois de tanto tempo. Fiquei muito feliz, o seu dia iria chegar e chegou hoje, em casa. Fim de semana perfeito, quando esteve mais rápido em quase todas as sessões de pista, só não o foi no warm-up. Enche-se de moral e passou novamente o Enea Bastianini e novamente é terceiro no campeonato. A melhor GP23 longe e tecnicamente ainda na disputa do título, mesmo que muito longe. Chegou muito cansado no final da prova.

Jorge Martin fez uma grande corrida também. Vindo da segunda fila na largada, teve que impor-se sobre o sempre arrogante Pedro Acosta, ultrapassando-o com firmeza. Depois por duas voltas tirou a pressão do Marc Marquez e apertou o ritmo, mas logo percebeu ser inútil e segurou-se tranquilo na segunda posição, talvez sofrendo o mesmo que o Marc, fazendo força para manter a concentração. Com os dois segundos lugares deste fim de semana, e com a queda do Bagnaia, abriu 23 pontos, uma distância muito boa e que o bi-campeão vai ter que suar para descontar novamente.

O Tubarão Pedro Acosta teve também um grande fim de semana, com dois pódiums de terceiro. Tudo bem que o de hoje foi herdado, mas ele mostrou-se rápido e muito aguerrido. A KTM acelera muito na reta, ele freia muito bem, o que torna a sua presença na pista um estorvo para quem vem de trás, ele é muito combativo e difícil de ser ultrapassado. Mesmo mais lento, atrapalhou muito o Alex Marquez e depois também ao Bagnaia. Mas é isso mesmo, ele ganha exatamente para isso, atrapalhar qualquer um que venha por trás e manter-se na frente na pista!!

Agora chegou a hora de falar do acidente da prova, entre Pecco Bagnaia e Alex Marquez. Lembrou-me o André Bertrand que assim como ano passado em Le Mans entre ele e Viñales, como em Portimão este ano entre ele e Marc Marquez, Bagnaia precipitou-se e arriscou demais. Estava mais rápido do que o Alex e tinha ainda 6 voltas para escolher uma ultrapassagem menos perigosa. Estas motos não tem espelho retrovisor, o piloto olha para a pista, onde quer ir, “you go, where you look”, tudo muito rápido. Não teria interesse nenhum em prejudicar o Pecco e cair junto, arriscando a se quebrar todo e perdendo pontos no campeonato. Como certamente diria o grande campeão Casey Stoner: “Your ambition outweighs your talent”. Pecco arriscou vindo por fora e aparecendo na frente do Alex muito pertinho. Reparei na camera lenta que o Alex nem tocou no freio. Graças a Deus ninguém se machucou sériamente, pois foi um tombo muito feio e perigoso, com o Pecco ficando por baixo da moto azul da Gresini, sendo arrastado a milímetros da roda dianteira da moto. Em um tombo muito mais simples de se ver, um simples toque da roda dianteira da moto no braço do Marc Marquez, desgraçou sua carreira por anos. Muita sorte não ter acontecido nada.

Pecco tem um estilo fluido de correr, liso, e faz ultrapassagens em momentos em que pode usar isso. Diferente de outros pilotos que quando estão em modo de guerra tentam fazer ultrapassagens quadradas, forçando com a moto em pé na frenagem. O Pecco parece tentar usar a sua velocidade em curva para passar, o que o expõe, bate deitado, com o oponente também deitado, uma situação muito difícil de resolver. O seu protetor “a todo custo” Valentino Rossi, vai ter que ir para o rancho treinar estas coisas com ele.

Que bom que ninguém se machucou e agora vamos para Riviera de Rimini, casa da Bimota e um dos lugares que eu mais gostaria de conhecer no mundo de Deus. Pecco vai começar a remar de novo, algo em que ele é bom e está acostumado. Marini continua com seu único ponto e as japonesas láaaa atrás.

Parabéns Gresini, parabéns Marc Marquez! Nós todos estávamos merecendo isso.