A Hora da Virada

Foi um fim de semana muito interessante em Sachsenring, um circuito que marcou a primeira de cinco duplas vitórias do Martin em 2023. Na 5a-feira a conferência pré-evento reunia aqueles que, para a imprensa e boa parte dos torcedores, seriam os possíveis vencedores: Martin, Bagnaia e Marquez. Este último tratou de se excluir, dizendo que só teria chance se tivesse um fim de semana perfeito, o que foi por água abaixo logo na sexta. Martin estava confiante que estenderia sua liderança no campeonato, enquanto Bagnaia mantinha aquele sorriso de Mona Lisa de quem sabe a capacidade que os técnicos da Lenovo possuem para refinar o acerto da sua moto a cada dia.

O desastre do Marquez começou com alguns problemas técnicos nos boxes. Há uma diferença enorme entre Gresini, Pramac e Lenovo, e ele só tinha uma moto que estava andando ao seu gosto. Quem rever o acidente da curva 11 pode notar que ele podia ter se soltado da moto muito antes de ser catapultado, mas como disse o seu chefe de equipe, Frankie Carchedi, ele tentou salvar a moto que preferia. Acabou sendo ejetado, o que poderia ter tido consequencias mais graves. Diggia e Viñales, por exemplo, também tiveram seus “vôos” com impacto nos seus desempenhos no sábado e domingo. Inicialmente eu critiquei muito o Formiga por ter saído muito tarde no Q1, mas o mesmo Carchedi confirmou que ele teve um problema na eletrônica quando saiu para a última tentativa, teve que voltar ao boxe, e saiu novamente com o tempo justo para uma única volta. Enrolou-se com o Bradl passeando e teve que largar da 5a fila.

Na Pramac, ao contrário, tudo funcionando perfeitamente: pole e vitória no sábado, com Oliveira colaborando para tirar mais 2 pontos do Bagnaia: a vantagem de 10 pontos subiu para 15, e o Martinator garantia que no dia seguinte, com o pneu médio na traseira, iria andar ainda melhor.

Foi muito bom ver o português andando no grupo da frente. Um desempenho que veio no momento certo, já que muitas decisões serão tomadas até Silverstone e um ditado do paddock diz que “você é tão bom quanto sua última corrida”. Acho que o dentista vai ter mais do que uma proposta na caixa de entrada do seu email.

O meu amigo Mario foi condescendente com o Martin e sua queda na liderança que deu 25 pontos de presente ao Bagnaia. “Acontece com todo mundo” e não posso contestar esse argumento. Só que o Martin é reincidente… quem lidera a pontuação tem a vantagem enorme de poder minimizar perdas. Bagnaia vinha tirando um décimo aqui outro ali. Podia até chegar em condições de ultrapassá-lo na última volta, mas esse seria um “e se?”. Suponhamos que o italiano conseguisse chegar e ultrapassar o espanhol: no máximo recuperaria os 5 pontos que perdeu no sábado e continuaria 10 pontos atrás. Além do Martin ter entregado o campeonato passado na Indonesia, este ano ele já caiu liderando em Jerez, e em 3° na Sprint de Mugello. Assim facilita o tri do Pecco…

Bagnaia tem a melhor moto, a melhor equipe e a melhor cabeça. Também já caiu, inclusive na mesma curva em 2022, mas ele tem mais “gordura” em termos de moto e equipe do que os outros. Naquele ano de 2022 ele saiu de Sachsenring 91 pontos atras do Quartararo, que estava com a mão na taça do bi. Aí o francês fez uma cagada totalmente desnecessária na corrida seguinte, em Assen, ficando de fora enquanto o italiano descontou 25 pontos. Foi punido em Silverstone por ter, com sua queda, atrapalhado o Aleix na Holanda. e só chegou em 8°, perdendo mais 17 pontos. Ou seja, por causa de uma manobra infeliz perdeu quase metade da vantagem que tinha em apenas duas corridas. Foi o começo da virada.

Agora em 2024 no fim do GP da Catalunha o Martin estava 39 pontos à frente do Pecco. Perdeu 49 pontos em 3 provas. Há muitas corridas pela frente, mas o mental vai precisar de ajuda nesse break de verão.

O fim da corrida da Alemanha também colocou um ponto final na novelinha “Acosta vai quebrar o recorde do Marquez?” que sempre achei uma injustiça com o garoto. As KTM ainda estão longe de chegar no nível das Ducatis. Acosta e Binder fizeram os mesmos 9 pontos neste fim de semana e o espanhol continua 2 pontos à frente do sulafricano na tabela, 6° e 7°, respectivamente. Só que há 3 Ducatis que vem pontuando mais do que eles: Diggia, Alex e Morbidelli. Ou a fábrica austríaca se mexe ou vai haver mais motos de Bologna no topo da classificação.

A Yamaha tem mostrado muito otimismo, mas os resultados não aparecem. Quartararo correu a prova em 41’17.566 em 2023. Este ano fez em 40’57.298. Diminuiu também a distância para o 1° colocado de 25″327 para 17″235, mas o resultado quase não mudou: de 13° foi para 11°, mas há que se levar em conta a queda do Martin e o passeio na brita do Viñales, 12°.

A Honda está ainda pior: Nakagami fez 41’05.880 este ano contra 41’17.776 em 2023, mas chegou 0.5 segundos mais distante do líder (25″817 contra 25″327) e no mesmo 14° lugar. Nos dois anos ele foi a Honda mais bem colocada. Pelo menos o Marini conseguiu seu primeiro pontinho, após a punição de 16s do Augusto Fernandez e do Zarco por problema de pressão no pneu dianteiro. Não disse que era a hora da virada? kkkkk

Mesmo com todos os problemas foi um bom fim de semana para a Gresini, que se aproximou da Pramac no campeonato de independentes com o pódio duplo dos irmãos, um fato que só tinha acontecido em Imola, 1997, quando os irmãos Aoki chegaram em 2° e 3°, perdendo para um tal de Mick Doohan. Ou seja, se o Hamilton realmente quiser fazer uma oferta, vai ter que aumentar o valor do cheque… Alex fez um bom fim de semana e o MM pela 5a vez no ano saiu da 5a fila para o 2° lugar. Nem preciso me estender.

Muito bacana a presença do Keanu Reeves e sua esposa Alexandra Grant no circuito. Conversaram com o Simon Crafar e mostraram que entendem do campeonato e acompanham as corridas. Nenhum cachorro foi ferido no evento. Ainda bem…

Por fim, destaco o excelente desempenho do Diogo Moreira: muito próximo do seu 1° pódio na Moto2. Lutou de igual pra igual com os favoritos ao título e eu gostaria de vê-lo em uma equipe mais estruturada. De qualquer maneira está dando banho nos outros rookies.

Na Moto3 o colombiano David Alonso conseguiu sua 6a vitória no ano, 10a da carreira. É o fenômeno da vez.

Das perguntas que deixei ao fim da última coluna uma já foi respondida: a BMW fez valer o contrato e o valor milionário da multa rescisória e o turco vai ficar no WSBK.

A Ducati declarou que terá apenas 3 GP25, portanto Gresini ou VR46 terão 2 GP24 e a outra terá uma GP24 e uma GP25. Até esta 2a-feira, 19h de Londres, a informação, ainda a ser confirmada, é que Diggia será piloto Ducati, correndo com a GP25 na VR46. Aldeguer seria o seu companheiro de equipe. Isso deixa uma vaga na Gresini em aberto, já que Alex Marquez renovou até o final de 2026.

Agora férias de verão por aqui: 15°C nos termômetros. Silverstone será imperdível, com as equipes usando liveries de época em homenagem aos 75 anos de MotoGP. Estarei lá!

Abraços

Pai orgulhoso do João e da Nanda, botafoguense, motociclista e cabalista. 15 anos como CIO e membro do Board de empresas multinacionais, participando no desenho e implantação de processos de logística, marketing, vendas e relacionamento com clientes e canais de vendas, inclusive por dispositivos móveis; Morador em Londres, é Fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimentos avançados (leitura) e intermediário de Francês e Italiano; Possui cidadanias brasileira e francesa.

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