Há alguns meses eu venho dizendo que o Marc Marquez é o grande vencedor do ano. Não acho que será campeão em 2024, mas atingiu todos os objetivos a que se propôs quando trocou um contrato milionário com a poderosa Repsol Honda (agora menos Repsol) por uma equipe familiar, para pilotar uma moto defasada. O primeiro objetivo era retomar a alegria de disputar um GP (algo que o Mir não sente há mais de um ano). O segundo era assinar um contrato com a equipe que tem o engenheiro mais competente e criativo do grid: Gigi Dall’Igna. O terceiro era voltar a vencer.
Vencer duas corridas seguidas já foi um bônus que ele mesmo atribuiu ao Fausto Gresini: aquele que mandou uma chuva dos céus para que uma moto da sua equipe, com uma pintura em sua homenagem, vencesse em Misano.
A chuva foi reveladora por dois motivos. Primeiro para lembrar ao grid que ele continua sendo o piloto que melhor entende uma pista escorregadia. Segundo para percebermos que o Martin, embora rápido, não tem a mentalidade de um campeão.
Martin fez tudo certo na Sprint. Largou feito um raio, tomou a frente da corrida e não cometeu nenhum erro, ampliando sua liderança no campeonato para 26 pontos. Podia tranquilamente chegar atrás do Bagnaia no domingo e manter ainda confortáveis 21 pontos de folga.
Quem lidera o campeonato possui a enorme vantagem de precisar marcar apenas seu adversário: se ele escolhe pneu médio, o líder vai de médio. Se escolhe pneu de chuva, o líder vai de chuva. Se o adversário se der bem, o líder se dá bem. Se o adversário se der mal… a vantagem permanece. No GP da Australia de 2023 Martin era o pole. Por causa do tempo a corrida aconteceu no sábado e Martin foi o único a escolher o pneu macio na traseira. Nas últimas 3 voltas ficou sem pneus e chegou em 5°, entregando 9 pontos para o Bagnaia, ao invés de descontar 5 ou 9 (caso o italiano chegasse em 3°). Zarco agradeceu e conquistou sua única vitória na categoria.
Ontem Bagnaia liderava e tinha o ônus de ser o primeiro a descobrir como estava o asfalto na próxima curva. Bastava seguir o bicampeão, que roda “um milhão de kilometros por ano em Misano” (palavras do próprio Pecco), e defender a menor perda de pontos possível. A questão é que o Martin é bom, mas se acha um gênio. E quis dar um golpe de mestre para ganhar a corrida. Entregou 19 pontos de graça e devia pagar uma pizza pro Marc, que lhe salvou 5 pontinhos preciosos. Em tempo: torço pelo Martin, que nunca terá outra oportunidade como a deste ano. Por isso fico p da vida com as bobagens que ele faz.
Frankie Carchedi conseguiu um acerto para a GP23 que deu ao Formiga um melhor controle da moto. Isso aconteceu no warmup de Silverstone. De lá para cá ele diminuiu a diferença para as GP24. Na Áustria ele desperdiçou 9 pontos ao cair na Sprint e certamente um pódio ao não conseguir engatar o dispositivo de largada no domingo. Aragon foi um passeio. Em Misano ele deu um tiro no pé ao cair no Q2 e largar em 9°. Ainda assim impressionou vários comentaristas ao ultrapassar 4 carnes de pescoço (Bez, Miller, Binder e Acosta) em uma pista difícil. Na corrida fez sua mágica no asfalto molhado, mas manteve Bagnaia à distância na pista seca, fazendo 5 voltas abaixo do recorde anterior, sendo a 20° o novo recorde.
Há 7 GPs até o fim do campeonato. Misano 2 será uma corrida complicada, com os italianos imbuídos em evitar nova vitória espanhola. Indonésia é uma pista em que Marquez nunca andou bem. Japão, Australia e Tailândia são pistas em que a GP23 pode surpreender. Malasia seeá certamente território das GP24, mas Valencia é em sentido anti-horário e ele vai querer fechar o ano em alta. Dá para disputar o título? Honestamente acho que não, mas assegurar o 3° lugar no campeonato e receber medalha na festa da Dorna está na pauta. E acho que mais duas vitórias são bem possíveis.
Quem perdeu mais neste fim de semana foi a Aprilia. Parece-me que estão batendo cabeças nos boxes e perder 3 dos seus pilotos no ano que vem não vai ajudar. A KTM acaba de ultrapassa-los no campeonato de construtores. Está faltando pouco para a KTM chegar mais perto da Ducati: seu motor retoma com muita força, a moto freia muito, mas não consegue carregar muita velocidade nas curvas.
Quartararo marcou pontos sábado e domingo, me parece que pela primeira vez no ano. Hoje (9/set) foi o 5° melhor no teste. Ele pilota muito e foi 9 décimos mais rápido que o Rins, que ainda não está 100% fisicamente (e torço para que retome a forma, pois é um excelente piloto). Com mais motos e mais dados acredito na recuperação da Yamaha ao longo de 2025.
A Honda prometeu muitas novidades para o teste de hoje, mas Zarco foi o mais rápido dos quatro, a 1s3 do Bagnaia. Tirando o Savadori, as Hondas foram as mais lentas. Difícil…
Agora teremos um fim de semana de folga antes da maratona Asia/Oceania. Serão 3 corridas seguidas, um fim de semana de descanso e outras 3 corridas seguidas. É um período em que qualquer queda e contusão pode mudar o campeonato, mas tenho certeza que ninguém vai tirar a mão.
Nos vemos depois de Misano 2.
Até lá!