Nossas motos estão ficando incrivelmente complexas eletronicamente. A injeção eletrônica é o mais simples dos sistemas. De fato, é mais simples do que um carburador. Só que o carburador dá para ver e consertar (engatilhar) com martelo, alicate, alfinete, pregos e WD-40, a injeção não.
Uma Ducati moderna hoje em dia tem pelo menos uns 3 computadores que precisam se comunicar entre si, através de uma mini rede multiplexada no chicote da moto. A ECU da moto, a ECU do ABS, a das suspensões eletrônicas, a do radar, a de segurança contra roubo, o painel… é uma loucura.
Está ocorrendo uma Landroverização das motos, ou seja, em alguns anos estarão todas paradas, sucateadas, sem rodar, por falta de componentes ou por inviabilidade econômica de reparo. Hoje eu recebo propostas de LandRovers Range Rovers por 30 mil reais “tudo funcionando”, até parar. Que pode ser amanhã. Ao mesmo tempo que recebo também propostas de Range Rovers zero por R$ 1.500.000.
Eu sei que em São Paulo tem um cara ganhando uma grana carburando as Triumph T595, depois T955i, que vinham com a injeção SAGEM MC2000/1000, que estão nas últimas, enguiçando direto e sem conserto.
Como se fosse pouca a já complexa eletrônica das motos, vem aí mais coisa. O Connected Motorcycle Consortium (CMC) é uma associação internacional dos principais fabricantes de veículos de duas rodas que visa incluir as motos no futuro da mobilidade conectada para melhorar a segurança dos motociclistas.
As montadoras vêm pesquisando e desenvolvendo tecnologias de comunicação Veículo a Veículo (V2V) há anos, e a CMC vem trabalhando também para agregar informações enviadas pelas motocicletas (que possuem necessidades e dinâmicas diferentes) para que possam ser padronizadas no futuro, quando a tecnologia está integrado em toda a frota de motos e automóveis em circulação.
A Ducati, com sede em Bolonha, foi um dos principais intervenientes no Demo Event organizado no autódromo de Lausitzring (Alemanha) pelo Connected Motorcycle Consortium para demonstrar a eficácia dos sistemas de conectividade moto-carro desenvolvidos ao longo deste ciclo de investigação do consórcio. .
A CMC foi fundada em 2016, mesmo ano em que a Ducati aderiu, estando os seus membros inicialmente envolvidos numa análise precisa dos acidentes mais perigosos entre motos e automóveis em termos de frequência e gravidade dos danos sofridos pelos motociclistas. A partir desta investigação, foram selecionados os casos onde a conectividade mais poderia ajudar e foi iniciado o desenvolvimento de metodologias capazes de reduzir o número de impactos e seus riscos à saúde dos motociclistas. Um aspecto crucial desta investigação foi reduzir ao máximo os tempos de reação do sistema, porque a limitação do risco de acidente depende da antecedência com que uma das duas partes envolvidas é avisada.
Para demonstrar a eficácia dos sistemas que estão sendo pesquisados e desenvolvidos, a Lamborghini ajudou a Ducati na fase experimental do projeto, fornecendo um Urus para simulações de casos de uso. A Ducati decidiu analisar os três casos de acidentes mais críticos e perigosos – aqueles que colocam as motos numa posição obscura em relação aos carros que se aproximam ou aqueles que colocam os motociclistas numa situação em que não têm visibilidade do que está a acontecer à sua frente. Nestas situações, a comunicação entre veículos integrada com sensores de bordo poderia ajudar a reduzir o número de acidentes.
A tecnologia foi desenvolvida pela Ducati em colaboração com vários fornecedores, incluindo Bertrandt para o hardware e Nfiniity para o sistema operacional e desenvolvimento de algoritmos. Nesta fase de desenvolvimento, o protótipo conta com uma tela adicional na moto que mostra sinais de alerta que podem alertar o motociclista sobre qualquer perigo.
Três situações mais críticas e perigosas pesquisadas
Os casos analisados e demonstrados em Lausitzring pela Ducati e Lamborghini foram IMA (Intersection Movement Assist), LTA (Left Turn Assist) e DNPW (Do Not Pass Warning).
O caso do IMA (Intersection Movement Assist) considera um cruzamento com visibilidade reduzida onde uma motocicleta em uma via movimentada se aproxima de um cruzamento onde um carro chega ao mesmo tempo vindo de uma estrada secundária.
Para tornar esta situação ainda mais crítica, a Ducati optou por adicionar um obstáculo fixo para obscurecer totalmente a visão da moto tanto do condutor como dos sistemas auxiliares do carro. Neste caso, um sinal de alerta é exibido no painel do carro alertando o motorista sobre a chegada da moto, orientando-o a se aproximar do cruzamento com extrema cautela.
O LTA (Left Turn Assist), por outro lado, refere-se a um cruzamento onde o carro e a moto estão trafegando na estrada principal, mas em direções opostas, e o carro quer virar à esquerda. Neste caso, a moto fica menos visível que o carro, mesmo através dos sistemas auxiliares, correndo o risco de não ser bem avaliada pelo motorista que se aproxima. Novamente neste caso, assim que o motorista ligar o pisca-pisca ao se aproximar do cruzamento, será exibido um sinal de alerta para a moto.
Já o DNPW (Do Not Pass Warning) é o caso em que uma motocicleta em uma fila de trânsito quer ultrapassar um veículo grande à sua frente e que por sua vez tem um carro à sua frente que quer virar à esquerda, mas é não visível para o motociclista. Nesse caso, é o motociclista que vê o aviso assim que o sistema detecta que tanto o carro quanto a moto ligaram os piscas.
É tudo muito bom, tudo muito bem, mas além de encarecer as motos, irá complicar ainda mais os seus sistemas. Serão motos para usar como os carros de rico. Comprar caríssimos, usar durante a garantia e vender antes de ela acabar. O próximo comprador tem ainda alguma chance de curtir, mas o terceiro dono… este está ferrado. Provavelmente terá que levar no mecânico para retirar estas coisas todas, se possível. Como eu, que cheguei a pensar em colocar um motor de AP no meu Freelander….