Eu posso me gabar de ter uma grande experiência com Ducatis. Já tive a oportunidade de ter e de andar em muitos modelos, graças a Deus. Mas não andei em todos né? E uma, rara aqui no Brasil, que eu nunca tinha colocado as minhas mãos, é a SF 848.
Em teoria, eu não gosto de streetfighters… a pergunta é: “Prá quê uma moto rápida e esportiva, com motor para dar quase 300 km/h, se sem uma proteção aerodinâmica, não dá para ir além dos 180 km/h?” Quero dizer… dá, dá… mas é uma merda.
Este estilo criou-se na França, onde superbikes levavam estabacos, quebravam a carenagem toda e os mecânicos adaptavam faróis e as outras coisas, criando uma moto esportiva sem carenagem.
Esta SF 848 é bonita. Chama muita atenção onde quer que eu vá. É agressiva. Para quem não sabe, ignora, nunca viu, ela é uma Ducati propriamente desenhada, projetada, construída. Diferente de TUDO o que é desenhado, projetado e construído hoje em dia.
O quadro trellis… tão leve e tão preciso quanto qualquer outro quadro perimetral ou cotoquinho de quadro de hoje em dia. Diferenças de peso medidos em gramas, que a minha pança e a de qualquer piloto pançudo anulam imediatamente. Sabemos que a desvantagem deste tipo de quadro é o custo de construção e um acesso mecânico talvez mais complicado. É muito mais barato extrudar uma peça de alumínio do que soldar no gabarito este monte de tubinhos. É leve, é flexível e rígido, é lindo. Só a Ducati e a KTM usavam. Tiraram o Trellis para economizar na fabricação, este papo de que os novos chassis melhoram o desempenho, para ducatistas normais, é para boi dormir.
A roda traseira, fica no lugar segurada por um monobraço. Taí… sabemos tem anos que uma balança de dois braços é mais leve e funciona melhor. Carl Fogarty chegou a testar uma 916 (sacrilégio) sem monobraço, e aprovou!!! Mas ninguém em sã consciência na Ducati autorizou este tipo de aberração. O monobraço é mais pesado, e, é muito mais caro de fabricar. Só a Ducati usava. Tiraram o monobraço para economizar na fabricação, este papo de que melhora o desempenho, para ducatistas normais, é para boi dormir.
O motor é um V(L)2 desmodrômico, nesta SF848 com 130CVs em um estado de tunning moderado, mas capaz de levar a motinho até uns 250 km/h. Belt-drive, desmoquattro, um pequeno demônio sob controle. Só a Ducati usava Desmos. Tiraram o desmoquatro testastretta para economizar na fabricação, este papo de que melhora o desempenho, para ducatistas normais, é para boi dormir.
A moto é bem equipada, com grossas bengalas Marzocchi na suspa dianteira e uma unidade Sachs, na traseira. Nesta moto este conjunto está tão bem regulado… uma das melhores motos de suspensão que já andei. Pinções Brembo e calçada com Pirellis Diablo, outra combinação literalmente infernal.
Convidei uma galera para um rolé no sábado, onde eu tive a oportunidade de pela primeira vez pilotar este bólido de maneira aceitável… com espaço. A galera toda furou, tinham que lavar banheiros para as suas mulheres, cambada de frouxos. Todos menos um, o meu grande amigo Arcanjo, que compareceu com sua MTS Enduro.
Meu coração se enche de alegria quando eu ando com o Arcanjo, pois ele tem 10 anos a mais do que eu, e está mais inteiro para andar de moto. Fico feliz porque vejo que ainda vamos andar muito!!!
Decidi que vou evitar rolés batidos, e gastar gasolina para conhecer lugares diferentes. Minha idéia inicial era ir até Bananal, ou Bom Jardim, mas o calor estava brutal e resolvemos fazer um percurso que eu só fiz uma vez na vida, e que o Arcanjo nunca tinha completado, que é a volta em torno de Petrópolis passando por São José do Vale do Rio Preto. Foi divertido, apesar dos mil quebra-molas. Almoçamos uma linda feijoada em Teresópolis e descemos. Rodamos uns 300 kms.
A SF848 é uma SuperSport, não uma Superbike, e isso é bom, pois ela não é estúpida como a SF1098. Seu motor tem as marchas longas, mas tem um torque gordinho que já tem força nos 4 mil giros. Seu som de descarga é baixo e não é incomum você esquecer de colocar a sexta marcha, pois ela não reclama de ficar andando em quinta. A moto anda muito mais do que parece… a sensação é de que você está devagar, mas na verdade já está com uns 120/130 km/h, doidinho por uma multa.
A posição de pilotagem, mesmo com guidon, é esportiva e apoiada nos punhos. É boa, mas no final do rolé eu fiquei cansado. O assento é alto, eu fico na ponta dos pés. Levei minha filha na garupa na sexta-feira e ela foi com a bunda lá em cima! Segundo ela, soltinha. O jogo de direção é ridículo e perigoso, pois você vai manobrar a moto e o guidon não gira, dando susto. Andando, a direção, que conta com um amortecedor de direção, é precisa e a moto ataca todos os obstáculos como uma coisa só, não se sente “frente” e “traseira” na moto.
Dei um pau na reta saindo do pedágio de Teresópolis, só para testar, mas parei de acelerar nos 220 km/h, já com medo de perder o pescoço e a minha GoPro presa no capacete. Não dá para correr com estas motos sem carenagem.
Estou adorando a moto. É forte e suave ao mesmo tempo. Muito mais prática de usar do que uma moto carenada. Exala esportividade e exclusividade por todos os parafusos, congela os motoboys nas saídas de sinal, todos respeitam e deixam você sair primeiro.
O triste é que com o tempo a Audi está exterminando todos os diferenciais de uma Ducati. Motos sem trellis, sem monobraço, sem desmo, com o papo de que é para melhorar… melhorar o que? É tudo para fabricar mais barato, e continuar vendendo caro.
Quando todos verem e sentirem que uma Ducati das novas é igualzinha a uma Honda, só que querem cobrar o dobro do preço pela pintura e o adesivo escrito Ducati, babou, não vende mais nada.