Após 6 provas do campeonato mundial eu não tenho a menor dúvida que a dupla Quartararo/M1 está no mesmo nível do Márquez de 2014 ou 2019. Na primeira prova ele mesmo admitiu que estava desconcentrado e não controlou os mapas durante a corrida. Da segunda em diante ele sempre teve controle total do conjunto. Perdeu em Jerez por causa de um problema físico, e em Le Mans por causa da chuva. Em Mugello, depois do FP4 eu já dava como certa uma vitória tranquila: ele rodava 0.4s mais rápido do que os demais. FP4 e Warm Up são treinos cujo resultado é, às vezes, enganador. A maioria dos pilotos roda com pelo menos meio tanque e pneus usados, mas volta e meia aparece um leão de treino que vai lá e faz um tempo baixo em uma volta para ficar bem na tabela. O importante é a consistência, e ninguém é mais consistente do que o francesinho neste momento.
Qatar, Mugello e Áustria eram as “pistas da Ducati”. A Yamaha ganhou nas duas primeiras em condições normais de corrida. Salvo alguma excepcionalidade, o campeonato 2021 já está encaminhado.
Com as fábricas investindo milhões, sempre pode haver uma virada. Basta ver a KTM, que estava muito mal no ano, veio com um chassi novo e pegou um 2º e um 5º. As Suzukis também surpreenderam, recuperando nas curvas o que perdiam nas retas. O Rins é que precisa melhorar a concentração: quatro grandes prêmios seguidos terminando na brita é um recorde que ninguém queria ter. A Ducati tomou um choque de realidade, pois chegou a falar em fazer a trifeta na Toscana e acabou sem nenhuma moto no parc fermé. Minto: Zarco, em 4º e primeiro entre os independentes, estacionou sua Pramac por lá, mas o resultado foi muito abaixo da expectativa. A GP21 não tem agilidade nas mudanças de direção, assim como as Hondas, o que foi fatal em Mugello, que tem 5 “esses”. A Aprilia continua na mesma: o Aleix busca uma carona para largar na frente, mas o potencial da moto é entre 6º e 8º.
Ao final quatro pilotos caíram e dois deram longos passeios pela brita e o Rossi conseguiu um 10º lugar. O ponto positivo é que ele chegou a andar em penúltimo, mas ultrapassou Alex Marquez, Savadori, Pol e Lecuona. Os locutores do MotoGP, assim como eu e muita gente, torcem muito pelo Valentino, procurando sinais de otimismo que indiquem um bom desempenho em um próximo GP, mas o fato é que ele está infeliz na equipe, sem os mecânicos que o acompanharam por anos, e não está conseguindo fazer a moto mais rápida do grid andar pelo menos nos Top8.
Marc Marquez é outro que está visivelmente insatisfeito, tanto que chegou a cogitar parar mais um tempo para entender as causas das dores que sente no ombro. A queda boba no começo da prova é uma mostra da falta de concentração e da preocupação com o estado físico para a prova de casa, em Barcelona. A queda acabou evitando o desgaste das 23 voltas em um circuito exigente e ele chegará menos desgastado em Montmeló. O Max Otley escreveu, e eu concordo, que a prova da Alemanha será decisiva para o futuro do catalão nas pistas em 2021. Depois de Barcelona, haverá duas semanas para que ele se prepare para a primeira prova em sentido anti-horário deste ano. Se ele não for bem no circuito em que ganha regularmente… tudo pode acontecer.
A Moto 2 teve um final emocionante, com o Remy Gardner conseguindo ultrapassar o fenômeno e companheiro de equipe na última volta. Foi uma daquelas vitórias fundamentais na carreira, porque o rookie já tinha ganhado duas corridas e feito duas poles seguidas. Com os 25 pontos de domingo o australiano aumentou sua liderança de 1 para 6 pontos e a equipe do Aki Ajo está, mais uma vez, sobrando no campeonato. Juntos, seus pilotos têm 9 pódios e 3 vitórias em 6 provas. E o mais importante: nenhuma queda! Sam Lowes, por exemplo, ganhou as duas primeiras corridas, fez pole nas três primeiras, mas já caiu 3 vezes. Foi uma pena terem tirado o 3º lugar do Joe Roberts por ter tocado a faixa verde na última volta. Era um troféu merecido, mas as regras são iguais para todos.
Na Moto3 o Pedro Acosta chegou pela segunda vez consecutiva em 8º. Ainda assim, tem 52 pontos de vantagem sobre seu companheiro de equipe, Jaume Masia, que foi o 2º colocado. A Leopard teve a sua primeira vitória em 2021 com o bom piloto Dennis Foggia. Gabriel Rodrigo completou o pódio, dando um troféu para a Gresini na terra natal do Fausto.
O momento triste do fim de semana foi o falecimento do suíço de 19 anos, Jason Dupasquier, vítima de um high side na curva 9 no minuto final da classificação da Moto 3. O tombo em si não foi muito diferente de diversos outros, mas aparentemente ele foi atingido pela própria motocicleta e pela do Sasaki, que não teve como desviar e foi catapultado. Quando eu vi que o Tom Luthi, uma espécie de mentor do Jason, decidira não participar do warm up nem correr, tive certeza de que a condição dele era muito séria. Os pilotos fizeram uma bela homenagem antes da largada na MotoGP, mas alguns deles, como Bagnaia e Petrucci, largaram contrariados, pois achavam que o evento deveria ter sido suspenso. É claro que todo piloto sabe que a morte ou uma deficiência permanente é um risco que eles correm a cada volta, mas não deve ser fácil correr com tamanho impacto emocional.
O que você acha?
Nos vemos em Barcelona.