Mais um GP imprevisível, mais um vencedor na categoria. Miguel Ângelo de Oliveira produziu uma obra de arte na última curva do Red Bull Ring e fez A Portuguesa ser tocada pela 13ª vez nos circuitos do Mundial, a primeira vez ao fim de uma corrida do MotoGP. Há tempos falo que esse garoto, junto com Brad Binder e Jorge Martin, é fora de série. Se tem um sujeito com dedo de ouro no circuito, ele se chama Aki Ajo: esse sabe escolher bem seus pilotos, que são capazes de ganhar até quando não estão no melhor equipamento.
Minha alegria é redobrada ao ver o sorriso amarelo do Pol Espargaró, que teve a petulância de reclamar das críticas do Miguel, a quem derrubou no GP da Áustria, dizendo que o português corria na moto “dele”, desenvolvida por “ele”. É muito mais do que falta de modéstia, é pura arrogância. O grande salto de qualidade dado pela KTM entre 2019 e 2020 tem nome e sobrenome: DANIEL PEDROSA. Hoje todos temem a KTM, que é tão rápida quanto a Ducati, mas aparentemente melhor de curva.
As Suzukis também melhoraram muito e sua vitória vai chegar. O único problema delas é ultrapassar as V4. Se passam e abrem meio segundo, adeus. É o que ia fazendo o Mir até que a corrida foi interrompida pela queda do Viñales. Algumas equipes não aprenderam a lição deixada pelo GP da Áustria. Foi o caso da Suzuki e da LCR: Mir, Rins e Nakagami relargaram com pneus usados, enquanto boa parte do grid calçou pneus macios 0 Km para o curto trecho de 12 voltas. Isso foi determinante para alijar os três da luta pelo pódio, embora o Mir tenha sido premiado por um erro do Dovi na última volta, ganhando o quarto lugar.
Viñales se jogou da moto sem freios a mais de 200 Km/h. Foi a única Yamaha que largou com as pinças de 2019 da Brembo, todas as outras com as recomendadas 2020. As motos com menos velocidade final precisam recuperar o tempo freando mais forte, além do limite, o que superaquece o sistema. Alías, Morbidelli e Rossi explicaram, bem contrariados, porquê vão pior na corrida do que nos treinos: andar atrás de outra moto não só esquenta ainda mais o conjunto quanto os impede de fazer suas linhas de mais velocidade nas curvas. Todos os pilotos da Yamaha esperam poder voltar a largar na frente em Misano para poder ditar seu próprio ritmo.
A Honda está a 5 corridas sem um pódio, o que não acontecia há 38 anos. Teve uma boa chance com o japonês no domingo, mas agora o cenário ficou sombrio. Marc Marquez não voltará antes da rodada dupla de Aragón, 18 e 25 de outubro. Serão mais quatro provas contando com um aprendiz, um piloto de testes sem ritmo e um veterano machucado que não se entendeu com a moto 2020 e não consegue desenvolvê-la. Os parcos brilharecos do Nakagami não são suficientes para esconder a grande marc-dependência de Honda e Repsol.
A Ducati anunciou Zarco e Bagnaia para 21-22. Só não definiu quem vai ficar na Pramac e quem vai correr de vermelho. Para desagrado do manda-chuva do Motozoo, Zarco, mesmo machucado, fez um 3º tempo no Q2, passou a 1ª volta a 4s do penúltimo colocado, a 15ª volta em 18º a 5s do décimo e rodando 4 a 5 décimos mais rápido do que aquela turma. Na 16ª volta já tinha se livrado do Morbidelli e do Aleix, mas perdeu o esforço pela bandeira vermelha. Com pneus gastos e pouca aderência é onde ele mostra a sua capacidade, então a relargada o puniu porque a maioria calçou pneus novos, mas também o ajudou com o pulso. Ao final salvou 2 pontos em uma corrida com apenas uma desistência à sua frente. Ele ainda vai dar mais exposição à Esponsorama, onde o Tito Rabat ocupa um assento através de PAI-trocínio.
Fiquei muito feliz pelo Hervé Poncharal… 20 anos no circuito e premiado com a primeira vitória. Parabéns para a KTM por oferecer motos 2020 sem nenhuma diferença para sua equipe satélite. A única outra fábrica com quatro motos do ano é a Ducati + Pramac. É meio vergonhoso que Honda e Yamaha só forneçam uma moto do ano para suas equipes satélites e mais vergonhoso ainda que a Suzuki não tenha nenhuma satélite.
Vamos lá, Ezpeleta: inicie a campanha uma Suzuki para o Dovi! Pega uma Italtrans, uma Marc VDS, põe um dinheiro da Dorna e completa o grid de 24 motos.
No mais, parabéns para o Miller, que seria um sério candidato ao título se todas as corridas tivessem 12 voltas e acabassem antes dos seus pneus. Do jeito que vai, tenho de assinar com o relator: o Dovi é favorito para o título de 2020.
Na Moto2, nova vitória do Jorge Martin, que foi roubada porque ele usou 15 cm de faixa verde na penúltima curva. Vários pilotos, Rossi à frente, têm criticado os comissários pela falta de critérios. No MotoGP os limites da curva 1 viraram piada, principalmente na largada. Somente o Mir foi punido, na primeira corrida, e teve que entregar uma posição (para o Miller), mas vários foram além do limite sem que fossem investigados. Rossi fez coro comigo e reclamou sobre a falta de punição ao Pol na curva final e contra-argumentou que, no esfregar de carenagens com o Miller, o catalão tinha de ter tirado a mão. Mais um assunto que irão discutir na comissão de segurança pré-Misano. O campeonato de Moto2 embolou, com três pilotos separados por 8 pontos. O 5º está a 22, portanto tudo pode acontecer.
A Moto3 teve um novo vencedor: Celestino Vietti, da SKY VR46, mas Arenas ainda está a 25 pontos do Ogura, 2º colocado, e a 40 do McPhee e do Vietti. É o grande favorito, mas o japa também fez 4 pódios em 6 corridas e está correndo atrás da primeira vitória;
Duas semanas até a próxima.
Nos vemos em Rimini.
André Bertrand