Meus camaradas, tive a oportunidade de ir conhecer algumas novidades da Honda, lá no Campo de Testes Honda, no meio da floresta literamente, em Rio Preto da Eva, AM, em um local conhecido como KM 48.
Instalações não secretas, mas com certeza inacessíveis, onde a Honda tem dezenas de pistas de on e off, para teste e avaliação de todos os seus modelos.
Além disso, a imensa área tem também um projeto agrícola (que não me informei direito sobre o que é) e também a compensação ambiental.
Confesso que a Honda não anda com prioridade no meu radar e viajei sem saber de nada. Apenas informações vagas sobre uma nova moto de 700cc, um scooterzão. E achei que seria só isso.
Mas não, fiquei surpreso ao saber que iríamos ter um primeiro contato com uma moto inédita. Depois de apenas 6 meses de seu lançamento no Japão, a NC700X já está sendo produzida em Manaus e chegará em breve aos revendedores Honda.
Antes de conhecer, subir e andar com a moto em uma das pistas de testes, tivemos um briefing sobre as características técnicas e comerciais da moto:
Técnica resumida:
O projeto é diferenciado, que propõe o uso de uma mesma base mecânica (chassi e motor) para 3 modelos diferentes: Uma moto street, um scooter (Integra) e uma crossover, a NC700X. Explico o crossover nas características comerciais.
A moto tem muitos diferenciais. Design moderno, prático (com um maravilhoso porta objetos), esportivo. O motor é um inédito bicilindro paralelo, líquido, bastante inclinado para frente (55 graus), derivado técnicamente, acreditem, do motor do City (meio motor do City 1.4). O tanque de combustível foi deslocado para debaixo do assento do piloto e o disco de freio é fixado pelo meio da roda, e não pelo cubo. Um meio termo entre o ZTL da Buell e o tradicional. Será oferecida com e sem o ABS integrado.
Comerciais resumidas:
A Honda pretende iniciar uma categoria nova, a crossover, onde a moto tem posição de pilotagem confortável e visual agressivos de off, mas com pneus e suspensões de on. Novamente fizeram uma analogia com os carros, citando o novo CRV, como exemplo de crossover. Ela pretende ser a CRV em 2 rodas. O preço é o que considero extremamente atraente para uma 700 moderna e 2 cilindros, apenas 29 mil reais. Espancando a concorrência.
Andando com a moto.
O primeiro contato com a moto é ótimo. O acabamento é primoroso (padrão Honda), a qualidade de fabricação impecável, a moto impressiona pelo visual moderno e acessível. Ao virar a chave para a esquerda na fechadura sobre o meio da moto (onde seria o tanque) abre-se o banco do garupa, onde está a tampa de combustível. Ao virar para a direita, abre-se o “porta-malas” da moto, onde cabe um capacete integral e até minha filha, até quase os joelhos! É grande e fundo o compartimento, uma mão na roda mesmo. O painel é totalmente digital, bonito mas super simples. Tem o mínimo de informações, não tem tem termômetro e apenas um odômetro parcial.
Muito silenciosa, a moto avança sem hesitações e parece adorar andar devagar. Não esquenta, mesmo na floresta, bem suspensa (firme) e com freios potentes. Maleável, a moto é neutra nos zigzags entre os cones e muito controlável. Andamos de dia, não deu para avaliar a potência e qualidade de sua iluminação.
Uma vez livre da cidade, o habitat escolhido como alvo da moto, na pista livre, o novo motor ao meu ver deixou a desejar. Mesmo com pesquisas informando que a maioria dos pilotos anda aos 4 mil giros e que a maioria não corre ou passa dos 6 mil giros, é muito desagradável um motor que corta abruptamente em apenas 6.5 mil giros. Em uma arrancada mais forte, ou ultrapassagem, por exemplo, a moto “joga uma âncora” muito, muito cedo. Em segunda, por exemplo, vc afunda a mão e o motor acaba bem antes dos 100 km/h. Estranho pacas.
Falei com a Honda sobre isso e eles me disseram que vc tem que mudar o seu modo de dirigir. Bem, realmente, se vc quiser andar mesmo, tem que trocar as marchas aos 4 mil e não esticar as marchas. É anti-natural, é esquisito e os clientes vão reclamar. Minha opinião.
E a baixa rotação não é assim um trator para compensar esta característica. A moto é mansa de motor.
O motor bebe pouco (MUITO pouco), esquenta pouco, vibra pouco e anda pouco. Esta é a aposta da Honda. Andando devagar a moto fez 34 km/l na pista de testes, é mole para um 700cc?
A aposta é encontrar 6 mil compradores por ano que entendam a proposta e que troquem e marchas aos 4 mil giros.
Paramos para o almoço e de tarde fomos para outra pista testar a também nova BIZ 100. Esta categoria de motos está completamente fora do meu radar e até então eu nunca tinha andando de BIZ ou usado um câmbio como aquele. Com o avanço das motos chinesas e com a relativa sofisticação da sua BIZ 125, a impiedosa (com os concorrentes) Honda viu aparecer um buraquinho no seu lineup. Mais do que depressa tapou o buraquinho, oferecendo a BIZ 100, com um motor novo, que veio da Honda Wave. Visualmente é quase idêntica a sua irmã maior, sendo a cor dos piscas dianteiros a maneira mais fácil de diferenciar as duas. Ambar na 100 e brancos na 125.
A pista de testes tem subidas e descidas e ela encara numa boa. Não anda muito, é fato, é uma 100cc 4T, mas anda bem. O cambio é que são elas, não aprendi a usar sem dar tranco. Dei tranco em todas as vezes que o usei, mas imagino que com a prática eu talvez aprenda.
Para finalizar a Honda apresentou também a nova CBR 1000R, mas nesta nós não andamos.
As modificações foram anunciadas como extensas, e com o objetivo de melhorar a relação peso-potência. Como é habitual entre as fábricas japonesas, a moto perdeu peso. O visual é ligeiramente mudado nos faróis, o painel é novo e as rodas novas. As rodas parecem ser realmente leves, de tão finos que são os “raios”. De resto, parece e é a mesma moto. Sem controles eletrônicos de tração e sem mapas selecionáveis pelo usuário. É uma boa moto, mas em minha opinião, desatualizada técnicamente frente a concorrência. A eletrônica é a onda do momento e a Honda é a única que não tem nenhum dos dois controles. A Yamaha R1 que testei tem poucas semanas veio com os 2, a Kawa tem os dois, a BMW vem com tudo, e a Ducati também. Até a Suzuki tem mapas selecionáveis, embora não tenha controle de tração.
Não acredito que perder peso e retocar os faróis compense isso e a nova Honda 1000 terá também dias duros no mercado (como a nova R1), porém com a vantagem de contar com a extensa rede de revendas e com a qualidade do nome Honda.
Foi muito bom conhecer as novidades, conhecer a pista de testes e agora aguardo uma moto de testes para avançar na avaliação dentro de um parâmetro mais real de uso.
Abraços
Mário Barreto
Um comentário em “Hondas no meio da floresta”