E acabei de ver aqui o Lendas do Motocross, como já tradicional, vou escrever meu artigo.
Perdi o iníciozinho, estou aqui editando um vídeo com o Fausto Macieira e dei mole, ocupado que estou, perdi algumas cenas.
O miolo dos anos de 1980 foi o quente do esporte aqui entre nós, fui sortudo de ter participado. Muitas coisas aconteceram… Nivanor ainda andava, Boettcher também. Moronguinho veio com tudo, depois tivemos o Paraguaio, o Paraibinha, ainda sem a referência dos gringos, eles eram o máximo. Depois, as federações estaduais pegaram a manha de importar as motocicletas, tínhamos motos novas para andar, dentro da lei. As fábricas também começaram a trazer motos em importação temporária, o que elevou o nível do equipamento.
A WorkShow formatou e desenvolveu o Hollywood Motocross, um campeonato profissional, com divulgação, produção, com muitos patrocinadores… como eu disse antes, foi uma combinação de fatores, uma sorte, estar tudo ao mesmo tempo junto.
Quem diretamente causou toda esta revolução foi o Paraguaio… tivesse ele honrado o contrato assinado com a Yamaha, não teríamos os gringos, mas também não daríamos o salto que demos, gigantesco, em técnica. Em um época sem internet, sem YouTube, sem imagens e sem campeonatos para assistir, estávamos parados no tempo aqui no Brasil, praticando um motocross de Heikki Mikola, saltando para a roda traseira, correndo duros nas motos.
Rodney e Kenny foram um choque para nós. De forma até inesperada, Rodney veio para um campeonato menos desenvolvido mas continuou crescendo. E veio puxando todos nós com ele. Só de olhar Kenny e Rodney andando, já se ganhava muitos segundos por volta. Isso não se conseguia olhando Moronguinho.
Kenny era melhor rankeado do que o Rodney nos EUA, mas não abraçou o Brasil como o Rodney, e tinha sequelas de um grande tombo que levou lá nos EUA. O motocross é um esporte muito intensivo e o Kenny simplesmente não teve a disposição incrível que o Rodney teve. Os dois andavam muito bem, rápidos e bonitos, mas o Kenny quis voltar, não conseguia mais atingir a concentração que o Rodney conseguia.
Paraguaio estava cheio de razão em questionar e atacar a posição dos gringos, afinal, ele estava ganhando uma grana preta para ser campeão, estava incomodando o Moronguinho, e não tinha como ele vencer uma corrida com Kenny e Rodney na pista.
Diferentemente da geração que veio depois, e que o Sassaki mesmo confessou no programa, que levava 3 voltas, Paraguaio e Morongo não levavam 3 voltas… eram muito melhores. Não ganhavam, mas não levavam nem uma volta. Talento, profissionalismo, salários, garra e vontade, Morongo e Paraguaio estavam em outro patamar, frente a geração de Negretti e Sassaki.
Rodney, já Brazuca, venceu as etapas sul-americanas do Mundial e foi contratado pela equipe oficial da Suzuki para ser o seu piloto número 1 no mundial. Deu o azar de ter como chefe de equipe o Rinaldi, campeão do mundo e recém aposentado. Deu azar porque o Rinaldi fez as coisas do jeito dele e não do jeito que o Rodney queria e precisava. Ídolo europeu, chefe na equipe, atrapalhou o Rodney, que poderia ter sido campeão do mundo ao sair do Brasil. Foi só… agora vejam… só, terceiro colocado.
O mundial é um campeonato duríssimo. Eu, mais recentemente vi Cairoli andando, vi Marvin Musquin, Ken Roczen, mas nada superou o pega que eu vi John Van de Berk e Rodney travarem no Nas Nuvens. Meninos, eu vi o Rodney ser empurrado, dando peitada no guidon, andando acima de suas capacidades, com o foda-se ligado, para manter-se na frente do John, e não conseguiu. É um campeonato duríssimo.
Certamente Rodney foi o mais influente piloto gringo a vir ao Brasil. Primeiro na dupla Rodney+Kenny, depois sozinho. Alguns outros vieram depois, mas o clima era outro. Já sem o mesmo glamour, sem a mesma grana e sem o mesmo talento. De todos, e não se fala dele, o que eu mais gostava e era excepcional, era o catalão Jordi Elias. Andou muito bem por aqui, mas não ficou marcado como o Brazuca.
Hoje o Pedro Faus falou mais, muito bem. Continua faltando o Ivan Lopes da Workshow, vai faltar Jordi Elias… Muito também se pode falar sobre os Mundial, com Franco Picco, Keith Bowen, Mick Dymond e muito outros.
Prá vocês verem como nós éramos lentos, Keith Bowen veio andar no Brasil e a Mar&Moto, equipe do campeão carioca Marcio Campos, forneceu o suporte para ele. Ele saiu para uma volta e voltou com o punho do acelerador completamente enroscado, tamanha força e tamanha a aceleração que ele dava no punho. Ele parou e pediu para amarrar o punho, e nós não sabíamos o que era isso, nós aqui NUNCA aceleramos deste jeito. E, a partir daí começamos a amarrar nossos punhos com fio e vimos que dava para acelerar 10x mais…
Muito bom ver o meu amigo Rodney Smith falando português, ele sempre foi um cara 100%. Nunca o vi emburrado ou reclamando de nada. Tivesse reclamado com o Rinaldi, teria sido campeão do mundo de MX.
Que venha o próximo.