E Jorge Martin conquistou seu primeiro título na categoria principal. Há pilotos cujo talento é perceptível desde cedo e Jorge é um deles. Rossi foi outro, assim como Marquez, Quartararo, Acosta e agora o David Alonso. Em meio a muitos excelentes pilotos, alguns tem um certo brilho, uma chama interna, que os coloca um degrau acima.
Foi um campeonato merecido, embora eu ache que se pode dizer que foi o Bagnaia que perdeu o tri, mesmo ganhando 7 sprints e 11 corridas de domingo. No parc fermé o que muitos descreveram como “elegância na derrota” me pareceu mais incredulidade com o resultado final, considerando as estatísticas tão favoráveis. Pouquíssimos pilotos venceram 11 vezes no ano, e todos que o fizeram levaram o título.
Ao final venceu o que errou menos e que soube usar a cabeça, acumulando dez segundos lugares nas corridas e seis segundos lugares nas sprints. As cinco quedas a mais do italiano fizeram com que lhe faltassem 10 pontos para mais um título.
A corrida? Foi a corrida mais sem graça e ao mesmo tempo tensa dos últimos tempos. Nenhuma disputa nas três primeiras posições a partir da 2a volta, mas a possibilidade de um erro do espanhol lhe tirar um título que era praticamente garantido desde a sprint da Malásia manteve a equipe Pramac e toda a sua família (e seus torcedores, entre os quais me incluo) na beira da poltrona até a bandeirada final. E o Martinator estava tenso. Confessou que não conseguiu jantar na véspera, e foi flagrado pelas câmeras enxugando lágrimas e rezando antes da largada.
Pra sua sorte a corrida lhe favoreceu muito, com o Espargaró largando melhor do que sábado e conseguindo se colocar em 4° lugar, protegendo o amigo de qualquer ataque kamikaze. Deixou o Marquez passar, para que o Formiga azucrinasse o Pecco, e ficou na dele, com 1 segundo de colchão tanto à frente quanto atrás. Devem ter sido os 40 minutos mais longos da vida dele. Depois, só festa!
Espargaró se despediu com duas belas batalhas: a primeira contra o Bastianini, que venceu, e a segunda contra o Alex Marquez, que acabou perdendo no finalzinho e a TV não mostrou.
Aliás três ultrapassagens na última volta causaram mudanças no resultado final do campeonato. Binder tomou o 5° lugar geral do Acosta quando passou o Bastianini para chegar em 6° enquanto o “tubarão” perdia a 9a posição para o Bezzecchi. Alex Marquez tomou a 8a posição no campeonato do Morbidelli ao chegar em 4°. MM93 fez 11 pontos a mais que La Bestia, retomando o 3° lugar que havia perdido na Sprint.
VENCEDORES DO ANO
A Ducati e o Gigi Dall’Igna foram os grandes vencedores de 2024. Tanto as GP23 quanto as GP24 foram muito superiores à concorrência e venceram 38 das 40 corridas. Fizeram os 4 primeiros colocados no campeonato, as 3 melhores equipes do campeonato, as 3 melhores equipes independentes do campeonato.
As outras marcas terão que trabalhar muito para ameaçar a Ducati. A KTM armou um time de ótimos pilotos, mas os boatos sobre a situação financeira da marca austríaca são preocupantes. A Aprilia deve correr com o número 1 na moto, mas perdeu o seu “gigi” para a Honda e só pode contar com o Raul Fernandez para comparar a nova moto com a atual. Acredito que as marcas japonesas, injetando muito dinheiro e contratando técnicos com uma visto diferente, tem mais chance de se aproximar da marca do Borgo Panigale. Em 2026…
PERDEDORES DO ANO
Pra mim foram Miller, Morbidelli e, principalmente, Bezzecchi.
O australiano fez apenas 87 pontos contra 217 e 215 de Binder e Acosta. Foi salvo aos 47″ do segundo tempo pela necessidade da Yamaha absorver o conhecimento que ele adquiriu na Honda, Ducati e KTM, mas seu contrato é de um ano apenas. A sua amizade com o Paolo Campinoti também ajudou nessa sua volta à Pramac, mas terá que mostrar bons resultados em 2025 para conseguir se manter no MotoGP. E por bons resultados me refiro em relação a Oliveira e Rins. Quartararo está um patamar acima dele e chegou à sua frente este ano, mesmo em uma Yamaha capenga.
Morbidelli teve o acidente pré-temporada em Portimão, mas isso aconteceu há 9 meses. Tendo uma GP24, conseguiu apenas uma medalha de bronze na sprint de Misano, seu quintal, e ficou atrás das duas GP23s da Gresini no campeonato. Foi resgatado do limbo pelo seu amigo e irmão Valentino (Franco foi praticamente adotado pelo Graziano, pai do Vale, quando o seu pai se suicidou) e vai ter mais uma chance de fazer a ótima GP24 andar. Eu gosto muito do Morbido, que esteve no Brasil no final de 2023, início de 2024, para entrar em contato com as raízes pernambucanas da sua mãe. Torço para que ele se recupere e volte a andar como em 2020.
Por fim, o Bezzecchi, que abriu mão da GP24 na Pramac e penou o ano inteiro com as dificuldades da GP23. Foi o 12° no campeonato: a pior de todas as Ducatis. Tomou a decisão de ir para a Aprilia e perdeu a oportunidade de correr de GP25. Morbidelli e Diggia estão devendo um super presente de Natal pra ele… na Aprilia vai dividir o box com o campeão do mundo: pense em um sujeito
que faz escolhas ruins! Desejo-lhe sorte.
MOTO2
A corrida foi mais animada que a MotoGP, com o nosso Diogo Moreira passando quase toda a prova embutido no pneu traseiro do campeão Ogura, um reconhecido osso duro de roer quando se trata de ultrapassá-lo. Só que o Diogo foi gigante e o passou na curva 14, no melhor estilo Rossi vs Lorenzo e conseguiu seu primeiro pódio na categoria, além do título de ROOKIE DO ANO. Em 2025 ele deve se juntar ao Canet e ao Manu González na disputa do título. Canet ganhou 3 das últimas 6 corridas, somando 4 vitórias. Foi o piloto que mais venceu e que fez mais poles (6) e fecha o ano cheio de moral. É importante, mas não decisivo: Aldeguer venceu as últimas 4 corridas de 2023 e foi muito inconstante este ano, chegando em 5° lugar no campeonato.
MOTO3
Acho o David Alonso com mais potencial do que o Acosta de se tornar campeão no MotoGP. Não só pelos resultados: o garoto venceu 14 das 20 corridas, o que é um recorde em todas as categorias, mas principalmente pela personalidade. O Acosta tem uma marra que o prejudica, enquanto o “Baby GOAT” me parece mais pé no chão, com muita vontade de aprender e humildade para dizer que o ano que vem na Moto2 será de aprendizado. Semana passada ele estava em Valencia ajudando a limpar as ruas e dando apoio às famílias dos membros da equipe Aspar. Ele tem o brilho.
E 2025 começa amanhã.
Muita gente em novas cores, cheios de expectativa. Mal posso esperar.
Diz-me o Mario que esta é a minha 100a coluna. É algo que faço com muita paixão, tentando trazer fatos e dados concretos. Agradeço a todos que lêem e que fazem comentários: favoráveis ou desfavoráveis serão sempre bem-vindos. Em 2025 tem mais.
Até lá!