Meu nome é ENEA!

E La Bestia disse a que veio. O trocadilho eu copiei do veterano ducatista Luiz Eduardo Costa, o Luigi, mas há muito eu torço por esse jovem talentoso, humilde e bem-humorado piloto italiano. Deram a ele a (ainda) melhor moto do grid, que dominou as últimas provas do campeonato passado, e ele treinou bem e correu melhor ainda. Foi emocionante ver a pequena Gresini recebendo o primeiro troféu desde a fantástica vitória do Toni Elias no Estoril, 2006, que foi determinante para o título do Nicky Hayden. Esta não foi uma vitória aleatória: acredito que Bastianini tem potencial para vencer outras provas e estar no Top6, principalmente enquanto a Ducati não se ajeitar com a GP22, que ainda está sendo desenvolvida.

E, quem diria, depois de tanto sofrimento em 2020 e 2021, a equipe que lidera o campeonato é a… Repsol/Honda! A nova Honda é bem-nascida, mais fácil de ser conduzida, mas Marc Márquez ainda não sente a frente da moto como gostaria. Ele sempre usou pneus mais duros na frente para frear com mais intensidade. Largar com os macios foi um sinal que ele não está conseguindo botar a moto onde quer, e o desgaste dos pneus não o ajudou. Foi a primeira vez desde Pedrosa que ele chegou atrás de um companheiro de equipe e tenham certeza de que ele está fumegando por dentro. Se o Pol tivesse vencido… Aliás, Pol era só sorrisos, agradecendo à equipe e destacando que agora a Honda não depende mais de um único piloto. Deu um certo mole ao tentar resistir à inevitável ultrapassagem da GP21, pois poderia ter chegado em segundo e entregou 4 pontinhos de graça para o Binder. As Hondas ainda irão evoluir e vão disputar o título, embora os dois pilotos da LCR ainda estejam devendo. Nakagami está vendo a sombra do Ai Ogura se aproximando e Alex Márquez vai ter que tirar coelho da cartola se quiser continuar no grid em 2023.

A KTM do Binder foi uma surpresa para todos. Não estavam andando bem nos testes pré-temporada e pareciam perdidos. A largada relâmpago do sul-africano foi fundamental para o resultado. Em um grid tão equilibrado, estar no grupo da frente desde o início muda o resultado da corrida. Binder é o queridinho dos austríacos e já tem contrato até 2024. O Miguel Oliveira precisa se recuperar rapidamente: acabou na brita da curva 1 e já está 20 pontos atrás do companheiro de equipe. Quanto à Tech 3, tenho que concordar com o Mario Barreto: embora eu tenha escrito aqui diversas vezes que o Raul Fernandez é um fenômeno, fiquei decepcionado com alguns ataques de estrelismo do espanhol. Eu torço pelos pilotos que são rápidos e agregadores, como o Bastianini, o Tony Arbolino (Moto 2), o Remy Gardner, o Quartararo… pilotos marrentos criam clima ruim na equipe e acabam não atingindo todo o seu potencial. Resultado: Remy já marcou seu primeiro pontinho no Mundial, passando o Binder Jr no finalzinho.

Falando em ultrapassagem no finalzinho, Quartararo perdeu o oitavo lugar na linha de chegada, por 7 milésimos. O francês está desolado, porque desde Silverstone as outras equipes foram deixando a Yamaha para trás e, no momento, me parece ser a fábrica que menos evoluiu. Perguntado sobre o que tinha dado errado na classificação, o campeão respondeu “nada, e isso é que preocupa”. Vejamos o que acontecerá em Mandalika, onde a reta é curtinha. Morbidelli andou mostrando um pouco do brilho de 2020, mas a concorrência está bem mais forte agora e a moto não está colaborando. Dovizioso é uma sobra do que foi. Mario e eu sempre brigamos por causa dele: eu o acho um piloto medíocre que teve a melhor moto do grid em 2017 e 2018 e não teve competência pra ser campeão. Está com uma Yamaha de fábrica, supostamente a moto ideal para o seu “estilo suave”, e até agora não impressionou. E não pode jogar a culpa na equipe satélite, porque essa mesma equipe ganhou 6 provas em 2020. O Darryn Binder, que não fez nada para merecer estar onde está, fez bem melhor que o Jake Dixon, que andou correndo no lugar do Morbidelli no ano passado. Não caiu nem derrubou ninguém, portanto ainda está no lucro.

As Suzukis talvez tenham sido a maior decepção da corrida, embora tenham beliscado um 6º e um 7º. Mir largou muito bem e estava em 4º logo no início, mas perdeu desempenho. Rins largou mal e veio se recuperando até chegar ao limite e se estabilizar ali na meiúca. Ambos se queixaram de falta de aderência: Mir na traseira, Rins, na frente. O motor está andando muito, e o Miller estima que eles arranjaram uns 30 cavalos a mais no inverno. Motor que anda muito ajuda nas retas, mas também dificulta nas curvas: a Suzuki perdeu um pouco daquela agilidade que tinha, assim como está comendo mais borracha. Em Lusail (pra mim sempre foi Losail, mas este ano vieram com essa nova grafia) o consumo também é um fator decisivo e isso parece ter afetado as Suzis e as Honda.

A Aprilia teve o seu melhor resultado desde que voltou às pistas. Não foi um pódio, mas nunca chegaram tão perto do vencedor. Acredito em uma vitória este ano, mas o Viñales já está fazendo os seus comentários desagregadores. O Aleix é um bom piloto, que trabalha duro. Não gosto dele como pessoa, mas ele merece ganhar finalmente sua primeira corrida para poder se aposentar e ir cuidar dos gêmeos.

Finalmente, as Ducatis. Oito motos na pista, três configurações diferentes: é de enlouquecer os engenheiros. Ironicamente levaram os 25 pontos e a liderança do campeonato de fábricas com a moto do ano passado, que está na mão de dois rookies (Bezzecchi e Di Giannantonio) e do Enea. As GP22 puro sangue estão com a Pramac e o Luca Marini, que acho medíocre, tanto que andou atrás do Bezzecchi todo o fim de semana. As motos “de fábrica” optaram por um motor híbrido 21/22 e ainda estão cheias de gremlins. Bagnaia se queixou de só poder andar na moto que ele considera à sua feição no FP4 e no Q2. É muita coisa para testar, muitas mudanças de um treino para outro. Tirando o Enea, todos largaram mal. Zarco passou as 3 primeiras voltas em 19º! Tinha um bom ritmo de corrida, tanto que chegou em 8º. Só não teve que ultrapassar Miller, que abandonou, possesso, por problemas eletrônicos, e Bagnaia que derrubou o Martin em uma pixotada que fez os velhinhos da Ducati arrancarem os cabelos. No final foi uma Ducati na frente, mas é aquele tipo de vitória com um gosto amargo de derrota.

Mario já falou sobre Moto2 e Moto3, mas precisamos aplaudir o Diogo Moreira, que, sem a marra do Granado, chegou, correu bem em uma pista difícil, e papou 10 pontinhos de um ótimo 6º lugar. É fato que o Foggia, o grande favorito, teve que largar em último e cumprir duas voltas longas como punição por barbeiragens cometidas no treino, e ainda chegou em 7º. Outro fato inacreditável é que o Sasaki, liderando por quase 4s, quase sofreu um high side, arrebentou a carenagem e teve eu abandonar. Castigo auto infligido… fiquei com pena dele e do Biaggi.

Em duas semanas teremos Indonesia. Achei a pista meio chatinha, com excesso de curvas, daquele tipo que anda todo mundo grudado, sem ter muito por onde passar. Espero estar enganado.

Até lá!

Pai orgulhoso do João e da Nanda, botafoguense, motociclista e cabalista. 15 anos como CIO e membro do Board de empresas multinacionais, participando no desenho e implantação de processos de logística, marketing, vendas e relacionamento com clientes e canais de vendas, inclusive por dispositivos móveis; Morador em Londres, é Fluente em Inglês e Espanhol, com conhecimentos avançados (leitura) e intermediário de Francês e Italiano; Possui cidadanias brasileira e francesa.

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