O primeiro GP da Indonésia em 25 anos foi cheio de emoções e serviu para embaralhar o campeonato com um pódio totalmente diferente da primeira prova. Acordei em cima da hora para testemunhar um dilúvio e uma moça, certamente franqueada da Fundação Cacique Cobra Coral, fazendo uma dança do para-chuva dado que até o Presidente estava pressionando o Ezpeleta pra garantir que haveria largada, nem que fosse de jet-skis. Incrivelmente a mandinga funcionou e a corrida aconteceu. Tanto a prova da Moto2 quando o MotoGP tiveram sua distância reduzida devido ao calor e ao possível impacto que causaria em pneus e motores, então o sofrimento de correr quase às cegas passou de 27 para apenas 20 voltas.
Pelo segundo GP consecutiva uma KTM largou como um foguete, o que foi decisivo para o resultado da corrida. Miller e Oliveira saíram na frente e chegaram mais rapidamente ao limite da pista, abrindo boa distância. Martin foi outro que largou bem, assim como Quartararo, mas ambos não conseguiam acompanhar o ritmo dos dois líderes. Quem andou muito mal nas primeiras voltas foi o líder do campeonato. Inseguro com a aderência da frente da sua GP21, Bastianini andava em penúltimo, perdendo 19s dos líderes em 6 voltas.
Aparentemente ninguém estava enxergando bem a pista, e alguns passeios pelas zebras resultaram em salvadas sensacionais, mas um pequeno rio cortando a pista na freada da curva 1 derrubou o Martin e deu um enorme susto no Bagnaia.
Enquanto Zarco começou a ganhar terreno, Quartararo parecia sofrer com os tradicionais problemas da Yamaha no molhado. Só que o bicampeão da Moto2 demorou muito para ultrapassar o Alex Rins e mais ainda para superar um Miller que estava com problemas de tração. Por sinal, não é a primeira nem a segunda vez que o francês respeita excessivamente as motos oficiais. Com a pista secando e uma trilha se formando alguns pilotos passaram a rodar mais rápido recuperando muitos segundos: Mir, Morbidelli, Bastianini e Quartararo.
O atual campeão chegou e passou as duas Ducatis, e Zarco finalmente superou o Miller, que chegou pressionado pelas duas Suzukis. Quartararo comemorou o segundo lugar como uma vitória. Miguel Oliveira venceu com muita autoridade, recuperando o brilho que foi perdido após o acidente no primeiro GP da Áustria em 2021. Binder chegou em um suado oitavo lugar, após ultrapassar agressivamente o irmão na penúltima curva. Ele teve que brigar com problemas no dispositivo de controle de altura da traseira durante toda a prova. Aliás, os idos óticos que alteram a altura da dianteira acabam de ser proibidos durante a corrida, mas podem ser usados para a largada.
O sul-africano venceu um duelo entre sete motos, com Aleix levando a Aprilia ao nono e Darryn Binder completando o Top10 e levando o prêmio de piloto da corrida. Houve muita resistência à contratação do caçula dos Binder, mas ele vem se saindo muito melhor do que fizeram Jake Dixon e Garrett Gerloff quando substituíram o Morbidelli em 2021.
O ítalo-brasileiro foi mais um que perdeu terreno no início, mas se recuperou quando a chuva diminuiu, fazendo um solitário sétimo lugar.
Vi jornalistas criticando a Honda, mas o desastre japonês neste fim de semana não se deveu a problemas de direção. A questão foi simples: as Hondas andaram muito no teste de inverno em Mandalika. Estavam com todos os parâmetros já definidos para chegar e andar na frente, só que a Michelin resolveu trazer outros pneus, que foram usados pela última vez na Tailândia em 2018, por causa do calor excessivo na pista. Os engenheiros não conseguiram se encontrar com esses novos pneus e os pilotos Honda caíram ou se arrastaram. Marc fazia um bom warm-up até que foi parar no segundo andar em um voo provocado por um dos piores high sides que já vi. Acabou achando por bem não competir, dado o calor e os riscos envolvidos. Pior do que isso: com a fortíssima pancada na cabeça voltou a ter os problemas de visão. Essa agressividade o tornou seis vezes campeão do MotoGP. Imaginar que o MM vai competir com cautela é totalmente fora da realidade.
Não dá para tirar muitas conclusões desta prova, a não ser que largar na frente está se tornando cada vez mais importante, seja através dos treinos, seja acertando perfeitamente o procedimento de largada. A Yamaha ainda vai dar trabalho em pistas que não tenham uma longa reta, as Suzukis precisam achar mais uns 10% para brigar por vitórias, as Hondas e Ducatis têm mais potencial do que mostraram até agora, e o Francesco Guidotti, que trocou a Pramac pela KTM, é o sujeito mais pé-quente do paddock.
Aguardando as provas das Américas para ter uma visão mais clara do Campeonato.
É uma pena que o Brasil ainda não tenha tido competência para se encaixar entre Argentina e Austin.
Até lá!