Em uma das minhas últimas colunas de 2024 eu previa que a Aprilia iria acabar 2025 atrás de pelo menos uma fábrica japonesa e, infelizmente, o início dos testes para a nova temporada não poderia ter sido pior para a fábrica de Noale. Martin está fora dos testes em Burilam e o Raul, o único piloto que poderia comparar a moto nova com a do ano passado, sofreu uma fratura na mão que o prejudicará enormemente, caso possa estar nos testes dos dias 12 e 13. Todo o desenvolvimento da Aprilia ficou a cargo do Bezzecchi e do novato Ogura, que foi consideravelmente bem: bastante consistente em seus tempos.
Por outro lado a Yamaha parece renascer das cinzas, baixando em 8 décimos seu tempo de volta em Sepang. Foi a maior evolução dentre as cinco marcas e Quartararo esteve sempre no topo dos tempos. É claro que tiveram a vantagem de andar no pre-teste e chegaram a estes 3 dias com muitos dados, mas a Honda teve o mesmo privilégio e não melhorou tanto. Progrediu, de fato, e tanto Mir quanto Zarco foram vistos sorrindo no paddock. O problema é que a Honda só tem esses dois pilotos, já que Marini só reclama e o Chantra está no grid pelo seu passaporte e carisma: será café-com-leite este ano.
Ainda na Yamaha, houve bastante consistência nos tempos das 4 motos oficiais, com o francês se destacando dado o seu enorme talento. Miller e Oliveira se adaptaram bem ao quatro em linha, todos elogiando a velocidade em curva e se queixando da retomada na saída delas.
A KTM ainda continua uma incógnita. Em primeiro lugar tem que sobreviver ao oceano de boatos que devem estar alugando um triplex na cabeça dos pilotos. No próximo dia 25 haverá a audiência definitiva onde será decidido se os credores aceitam o plano de recuperação da marca. Aqui no UK anunciaram descontos que variam de £1800 a £3000 em todos os modelos da linha para esvaziarem o imenso estoque de motos já produzidas e fazer caixa o mais rápido possível. Não tenho dúvida que tudo vai se acertar, mas não acredito que terão o mesmo caminhão de dinheiro para desenvolver a moto ao longo do ano. O motor é o que mais empurra dentre todas as marcas, mas a questão é como gerenciar essa potência de forma a não destruir os pneus. Acosta assumiu o protagonismo, o que deixa Binder em uma situação delicada. Viñales se adaptou bem e aproveitou para dar alfinetadas nos italianos, que “não lhe deram uma moto consistente”. Já Bastianini andou sempre mais lento que os demais e está bastante decepcionado. Diz que os dados de Acosta e Binder não o ajudam, pois ambos são muito agressivos com a frente da moto, enquanto ele é mais suave. O pior para La Bestia é ver a Gresini andando tão bem, pois o boato do paddock é que ele se separou de seu manager, Carlo Pernat, porque ele o colocou na Tech3 quando havia uma proposta da equipe italiana. Enfim, agora ele precisa baixar a cabeça e lutar com as ferramentas que tem.
Finalmente, a Ducati. Dall’Igna vem fazendo um trabalho fantástico ano após ano. Pegou a GP14 em estado de pedra bruta e foi lapidando, lapidando, até chegar na GP24, a moto quase perfeita, que ganhou 18 de 20 sprints e 16 de 20 corridas. Como melhorar aquilo que já é sensacional? A Ducati está nesse dilema, principalmente no que tange ao motor, já que, uma vez escolhido após o dia 13 de fevereiro, será o mesmo até o final de 2026. Miller e eu desconfiamos que a Ducati LeNovo ainda não botou todas as cartas na mesa, mas o fato é que as GP24 andaram na frente das GP25. Alex Marquez, Morbidelli e até o novato Aldeguer estiveram sempre no topo. Na simulação de sprint race o Marquez mais novo foi centésimos de segundo mais rápido que o Formiga. A boa notícia para os engenheiros é que Bagnaia e Marc estão dando feedbacks similares e até o italiano se espantou com essa afinidade. Diggia não contribuiu muito porque caiu ao final do primeiro dia ao fazer um wheelie ao final do treino. Fraturou a clavícula e teve que abandonar Sepang. Depois de tanto esforço e de abdicar das últimas corridas de 2024 para estar em perfeitas condições de forma a tirar o máximo da GP25 essa queda foi um balde de água fria. Da porta pra fora tanto Ducati quanto VR46 estão dando todo o suporte ao italiano, mas jornalistas que vivem no paddock afirmam que foi criado um enorme mal estar por causa desse acidente perfeitamente evitável. Até o momento não há confirmação da presença dele no teste da Tailândia, e Pirro vem cumprindo o papel que lhe caberia.
Ao final da próxima semana teremos uma visão mais clara do cenário, mas certamente só saberemos com clareza quem está em que lugar ao final do Q2 no dia 1° de março: ali é que a cobra vai fumar!
Abraços