Rossi depois de 9 vezes campeão do mundo.

Pois é, meus leitores não imploraram mas eu vou escrever mesmo assim. Acho que eles sabiam que eu iria escrever de qualquer maneira, e não quiseram implorar. Leiam a primeira parte clicando aqui.

Campeão em 2009, Rossi ainda no maior gás não foi capaz de parar o então mais jovem Jorge Lorenzo, na mesma equipe, e com a mesma moto. Em 2010 Jorge Lorenzo ainda bateu um recorde que era do Rossi, o de maior número de pontos em uma mesma temporada, 383 pontos. Dez a mais do que Rossi marcou em 2008. Neste ano Rossi quebrou uma perna, algo raro em sua carreira, o que o fez perder algumas corridas. Isso totalmente inédito em sua carreira. Chegou em terceiro no campeonato, que Jorge Lorenzo dominou, vencendo 9 vezes e chegando no pódium em 16 das 18 provas.

A M1 de 2010 com sua pintura especial para Laguna Seca

Jorge Lorenzo, estrela em ascensão ganhou o seu primeio título no MotoGP, de três que iria ganhar. Seu terceiro título no geral, pois já tinha sido campeão na 125 e na 250. Em 2009 já vinha pressionando, teve a história do muro dividindo o box. Rossi sentia sua batata assando e quando a Yamaha recusou-se a rebaixar o apoio ao Lorenzo, queria ele ser o primeiro piloto indiscutível e com vantagens na equipe, foi para a Ducati em 2011.

Difícil culpar a Yamaha. Entre escolher Rossi, já nove vezes campeão e entre o jovem talento ainda com muitos anos de estrada pela frente, e que provou suportar a pressão que Rossi colocou nele como companheiro de equipe… A Yamaha escolheu manter o apoio ao agora também campeão Jorge Lorenzo, o que Rossi achou inadimissível e foi para a Ducati em um contrato de milhões de dólares.

A Ducati estava insatisfeita com Casey Stoner, e Casey Stoner insatisfeito com a Ducati. Em 2010 Casey venceu 3 vezes com a GP10, mas reclamava que a Ducati nunca fazia o que ele pedia para a moto. A Ducati é assim. E ainda reverberava uma insatisfação da equipe com o abandono parcial da temporada passada, quando por problemas de saúde ele decidiu parar por algumas provas.

Com todos insatisfeitos, foi feito assim, Rossi foi para a Ducati com Jeremy Burguess e Casey Stoner foi para a Honda. A temporada de 2011 prometia.

Rossi e sua Ducati GP11

Só que Casey subiu na Honda e andou forte de primeira, enquanto Rossi subiu na Ducati e levou um susto, andou lá atrás. Um ultraconfiante Jeremy disse que a Ducati só precisava de Rossi e um bom preparador, kkkkkk. Se deram mal, os dois. A Ducati era uma moto muito diferente. A GP 11, projetada e construída por Filippo Preziosi era de alguma maneira revolucionária, não tinha chassi. Como as Panigales de rua, o motor era alto e servia de apoio para uma peça que era ao mesmo tempo caixa de ar e suporte da suspensão dianteira.

OLha aí a GP11 nua, em rara foto. Sem quadro.

Nick Hayden, que já vinha acompanhando o desenvolvimento da moto desde o ano passado, disse que a moto tinha potencial mas nunca saberemos, pois Rossi deu um ataque logo na primeira corrida ao chegar em nono, na segunda em “ônzimo” e a Ducati desesperada com os inputs e publicidade negativa das reclamações de Valentino Rossi mandou fazer na Inglaterra um quadro perimetral de alumínio e enfiou lá dentro o motorzão alto da GP11. Algo que o Jeremy e o Valentino soubessem usar e acertar, mas previsivelmente nada deu certo, Rossi não se acertou na moto Frankestein e chegou em sétimo no campeonato em que Casey Stoner passeou e foi campeão de Honda logo em sua primeira tentativa. Hayden avisou… era melhor ter desenvolvido a GP10/11 original.

Para 2012, em um ambiente confuso e pressionado, pois a Ducati não poderia fazer o que sempre fez e faz, colocar a culpa no piloto, afinal, era Valentino Rossi, apresentaram a GP12, uma moto que me dá vontade de chorar. Filippo ainda era o projetista, mas totalmente circunstanciado. A Ducati nunca tinha feito um quadro perimetral de alumínio, ela usava quadros de treliça lembram? O motor não foi trocado, ainda era o grande motor para a moto sem quadro. Jeremy Burguess não foi capaz de resolver ou acertar a moto, que teve o desempenho semelhante ao do ano anterior, com Rossi chegando em sexto no campeonato, conseguindo um quarto lugar como melhor resultado (em Assen), mas com o astral lá embaixo. Se deu conta de que ele jamais seria campeão novamente se ficasse na Ducati. Para piorar as coisas, a Ducati estava sendo vendida para a Audi e Felippo Preziosi saindo da equipe. Lorenzo foi campeão, por pouco sobre Pedrosa.

Vejam aí a GP12, dá para ver eu quadro de alumínio brilhando do lado.

Para 2013 algumas coisas mudaram. Casey Stoner, fiel ao seu estilo “diferente” de ser, bicampeão do mundo, resolveu parar. Ficou chateado com as pressões da equipe Repsol Honda e mandou todos a merda. “Vou pescar”. E caiu fora. Em seu lugar chegou chegando um tal de Marc Marquez, que já chegou e ganhou o campeonato mundial nas costas de Lorenzo por míseros 4 pontos. Mas nosso campeão Valentino Rossi engoliu seu orgulho, pediu para voltar para a Yamaha e voltou, como segundo piloto. Venceu uma corrida neste ano, Assen, como sempre, e chegou em quarto lugar no campeonato. Marcou mais de 200 pontos, muito melhor do que a Ducati. Animou-se.

Rossi e sua Yamaha M1 2013

Em 2014 melhorou um pouco mais, pois foi vice-campeão, atrás apenas de Marc Marquez que bateu o recorde ao vencer 13 provas no mesmo ano e ser bi-campeão. Chegar na frente de Jorge Lorenzo foi sensacional para ele, mas aí voltaram os problemas de muro no box, prioridades no desenvolvimento da moto, a ciumeira voltou e a batalha para quem é o primeiro piloto da Yamaha. A Yamaha, assim como a Ducati, não soube lidar bem com isso, incapaz de estabelecer uma verdade sólida no paddock.

Rossi com a M1 2014 em Sepang

Aí veio 2015, o ano em que tudo que podia acontecer, aconteceu e nem por isso Rossi conseguiu seu décimo título. Após um começo de ano relativamente fraco, Lorenzo ficou atrás de Rossi na classificação até a metade do ano. Na volta das férias Lorenzo melhorou, venceu sete vezes no ano, contra apenas 4 de Rossi, ambos atrapalhados por Marc Marquez e sua nova Honda, que era vai ou racha. MM venceu 5 vezes nesta temporada, mas não marcou 6 vezes, um absurdo. E Rossi comprou uma briga com o espanhol, ao acusá-lo de proteger Lorenzo, o que resultou no “clash de Sepang”, quando Rossi desesperado com o combate duro que Marc Marquez estava disputando, perdeu a cabeça e chutou o espanhol para fora da pista. O que lhe custou dinheiro, pontos na superlicença e uma punição para a largada da última prova, que Lorenzo venceu. Lorenzo se gaba de então ter vencido Stoner, Pedrosa, Rossi e Marc Marquez. O único capaz disso, e foi campeão por apenas 5 pontos. Seu terceiro título no MotoGP, quinto no total.

https://www.youtube.com/watch?v=5yJqXyIIvG4

Para 2016 o campeão Lorenzo já começou puto da vida com a Yamaha. Porque os japoneses cancelaram as festas pelo seu campeonato para não magoar Valentino Rossi, que estava pistola com todo o ocorrido no final do ano. Neste ano a Honda melhorou o motor da RCV de Marc Marquez, ele era tudo ou nada, que venceu 5x no ano e foi campeão novamente em cima de Rossi, que mesmo vencendo apenas 2x, contra 4 de Lorenzo, marcou mais pontos no campeonato e arrastava a lenga lenga sobre quem é o primeiro piloto da Yamaha.

Rossi e sua Yamaha M1 para 2016

Isso deu no saco de Jorge Lorenzo, que por uma montanha de euros foi para a Ducati, repetindo o que Rossi fez em 2011. Só que desta vez a Ducati já estava sob o comando de Gigi Dal’Igna e a GP17 era uma moto muito melhor. Rossi ficou livre de Jorge Lorenzo, mas para o seu lugar veio Maverick Viñales,que já estreou vencendo. No final do ano Maverick chegou em terceiro no campeonato, com Rossi chegando apenas em quinto, com apenas uma vitória advinhem onde? Assen. A Yamaha novamente presa em sua armadilha… tem o piloto mais valioso e popular do mundo, mas envelhecido e precisa encontrar um futuro. Mas como preparar um futuro campeão com Rossi mandando e desmandando no box? Marc Marquez venceu o campeonato em cima de Dovi.

Rossi e sua Yamaha Monster M1 2017

Em 2018 o pau comeu novamente entre Marc Marques e Andrea Dovizioso. Rossi chegou em terceiro no campeonato, mas nunca foi páreo e não venceu nem em Assen. Sobrou o gostinho de chegar 5 pontos na frente de seu companheiro de equipe Maverick Viñales. Fez 5 pódiums, mas ficou longe de seu desafeto de morte, MM. Já se falava abertamente em sua aposentadoria.

Rossi na apresentação da Yamaha M1 para 2018

Em 2019 Rossi chegou em sétimo no campeonato, não venceu nenhuma vez, fez apenas 2 pódiums enquanto Maverick Viñales venceu duas provas no ano para chegar em terceiro no campeonato. MM venceu novamente, marcando incríveis 420 pontos. Todos se perguntam, quando Rossi vai parar?

Rossi acariciando sua Yamaha M1 2019

Em 2020, o ano da pandemia, Rossi despencou na classificação, fez apenas 1 único pódium e chegou em décimo quinto no campeonato. Um ano ruim para a Yamaha oficial, que fez Viñales chegar em apenas sexto, mas com uma vitória. A incapacidade da Yamaha em gerenciar Valentino Rossi e as inconstâncias de Vinãles, também incapaz de se impor, fizeram com que a bem montada equipe satélite com Quartararo e Morbidelli se sobressaísse. Morbidelli foi vice-campeão.

Viñales e Rossi com a M1 2020

Em 2021, sua última temporada, e após o péssimo resultado de 2020, mesmo com toda a moral e popularidade de Valentino, não era mais possível montar um esquema de ponta com ele liderando. Ele é muito sagaz e competitivo, mas não é burro. O futuro chega para todos e após a aposentadoria de Casey Stoner, Dani Pedrosa, Jorge Lorenzo e até, de certa maneira Dovizioso, Rossi aceita um rebaixamento para a equipe satélite para que a Yamaha aposte tudo em Fabio Quartararo. Uma aposta que deu certo, Fabinho foi campeão do mundo. Rossi fez uma temporada medíocre, chegando em décimo oitavo no final da temporada, mas terminando sua última corrida como décimo colocado. É de se notar que as temporadas andam muito emboladas, com pilotos andando muito perto, muitas vezes com 1 segundo separando o primeiro do vigésimo lugar no grid.

Fim de uma era! Rossi pendura o capacete

Desde a sua última conquista de campeonato em 2009, foram 11 anos tentando e destruindo suas estatísticas. Alguns números e recordes cresceram, como o número de largadas, chegadas, pontos. Mas a eficiência caiu enormemente.

Ao se ver sem espaço na Yamaha, Rossi tentou a Ducati. Não imaginou que seria tão difícil, afinal, apesar de Stoner só ter ganho um único campeonato com a moto, todo ano ele ganhava muitas corridas com ela. Rossi sinceramente achou que ele e Burguess iriam dar um jeito na moto. Só aí perdeu 2 anos.

Ao voltar para a Yamaha calculou perder 1 ano para se adaptar e tomar as rédeas novamente. Quase deu certo, ele tomou as rédeas, mas Jorge Lorenzo é um osso muito duro de roer e por muito pouco sua aposta não deu certo. Daí seu desespero em 2015.

De 2015 para frente ficou muito difícil. Com Marc Marquez evoluindo e uma nova leva de pilotos jovens e bons, com as motos se igualando, sem privilégios e com a idade chegando, foi um milagre ele encontrar lugar até 2021. Outro milagre de fé os seus fãs torcendo por ele em décimo sétimo, décimo quinto, torcendo para ele ganhar a prova dali. É muita fé e torcida.

Para mim Rossi foi, além do piloto mais vencedor e longevo de sua geração, o piloto mais inteligente. Soube explorar o seu carisma e talento até o máximo. Isso rendeu-lhe 9 títulos mundiais, uma fortuna em dinheiro e bons negócios. Também para mim, demorou muito a tomar a decisão de parar, não era mais competitivo e pouparia-se de um risco e cansaço. Mas sua parada foi tão festejada e bonita que já acho que se fosse de outra maneira, não seria excepcional como ele sempre foi.

Seus adversários não tiveram como falar mal. Até Max Biaggi falou bem de Valentino Rossi. Muitas homenagens, muita emoção e agora a perspectiva de tê-lo como chefe de sua própria equipe. Já querem que ele ande com a moto!!!!

Então é isso, junte os dois artigos e vcs terão uma retrospectiva da carreira do “melhor de todos os tempos” Valentino Rossi!

 

 

 

 

 

 

 

 

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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