Acabei de assistir o primeiro episódio do “Lendas do Motocross Brasileiro“, e achei incrível. Para mim, emocionante.
Eu tinha a idéia de fazer um documentário igual, afinal, o João Mendes é quase um irmão para mim. Já dividimos escritório durante anos e o seu acervo sempre esteve muito disponível. Cheguei a formatar um projeto, mas quando apresentei para a Yamaha eu ouvi algo assim: “Putz! Acabamos de aprovar um projeto muito parecido com outros caras”. Por coisa de alguns dias poderíamos, eu e o João, estarmos estreando este programa.
É inevitável usar as imagens do João Mendes em qualquer coisa que envolva o motociclismo nos anos de 80 e 90. O seu BikeShow foi um sucesso estrondoso. As TVs não passavam nada que prestasse para nós, jovens que gostavam de muitas coisas, e especialmente de motociclismo.
E o João é bom. Com os recursos que tinha, fazia mágica. Ia com uma equipe mínima, uma única camera e fazia a prova toda. Além de bom, cagão, toda a vida cagão, porque tudo o que de importante que acontecia durante as provas, acontecia ao alcance de sua camera. Ele fazia a largada e saía correndo para outro ponto do circuito. Os pilotos esperavam ele chegar para levar um super estabaco, ou para fazer “aquela” ultrapassagem importante. Editava e a mágica ficava completa… parecia que tinha uma equipe de muitas câmeras na pista, mas porra nenhuma, era uma só. No máximo duas. Bom de entrevistas também, ele tem muitas.
Mas voltando ao Motocross… eu corri nos anos de 1980, 70 é velho demais para mim. Quando comecei a me interessar, meu ídolo foi o Moronguinho. Não me perguntem porque, mas eu que sempre curti e corri de Yamaha, torcia para o Morongo esquecendo que ele corria de Honda. Depois, Beto Boettcher. O Niva vinha em terceiro nas minhas preferências. Nunca curti o Paraguaio, mas gostava do Paraibinha.
Fui bem aventurado o suficiente de ter corrido contra todos eles, o que me enche de alegria e satisfação. Levei couro e volta de todos eles, mas dane-se, alinhei, larguei, consegui fazer 2 ou 3 curvas junto, tá bom, tá ótimo.
Hoje escrevi aos meus amigos no WhatsApp, que os homens do mundo podem ser divididos entre os que simplesmente viveram e os que “botaram prá baixo”, mão no fundo, com uma Yamaha MX180N, em um Hollywood da vida… Foi uma experiência muito incrível, muita marra, muita juventude, muita fé em Cristo. As motos eram verdadeiros foguetes, mais de 30 Cvs, leves, absolutamente sem uma suspensão decente… a única maneira de sobreviver era acelerar tudo, pois com velocidade a moto voava sobre os buracos, no absoluto limite entre o passa ou se quebra todo. Depois disso, para me assustar em uma moto, ficou muito, muito difícil. Eu sobrevivi.
Inclusive, em uma das etapas dos Hollywoods mais difíceis que eu participei, Ouro Preto, eu conheci o meu amigo para a vida inteira, o Paulo Lyra. Minha MX180 era um canhão, fora do regulamento. O motor era über futucado, o pistão uma casquinha, mas o que desclassificaria ela seria o seu carburador. Um imenso Keihin 35 com powerjet, de uma Honda MT 125. Era tão grande que eu tive que limar a cuba, para dar altura no bloco do motor. Era um foguete. A vistoria era uma bosta e eu passava nelas.
Andei bem, estava dentro para o final heat, mas no último treino eu explodi meu cilindro. Moeu o pistão. Paulo Lyra, que eu conheci lá, fez o contrário, moeu sua biela. Aí eu emprestei meu motor prá ele e dos dois, fizemos um. Mas, tirando as MX da equipe Shell Yamaha, que apitavam igualzinho uma YZ (que eu DUVIDO que fossem purinhas e que passassem por uma vistoria decente), não dava mais para as Yamahas. As Agrale WXT e as Honda XL Mobil (também super futucadas e duvido que passassem por uma vistoria), eram muito superiores e o Paulinho se deu mal. Marçal Barcellos venceu na estreantes, de WXT, aquela coisa feia e ruim, mas tinha suspensão prá caramba.
Eu corri durante uns 5 anos apenas. Fui bem de estreante e logo me graduei para PC, piloto de competição, para poder andar com motos decentes. Andei 2 anos de DT/MX, chega né? Só tenho uma única vitória na minha carreira, mas as corridas me ensinaram muito. Sobre preparo, sobre concentração, sobre esforço. Eu fui atleta durante muito tempo, desde os meus 10 anos, quando me filiei na Federação Guanabarina de Judô, kkkkk, ainda existia a Guanabara. Desde então eu sempre treinei com seriedade e conquistei vários pódiums no campeonato carioca de judô e fui campeão aos 15 anos, no peso mais difícil, o meio-médio. Tive que lutar 8 lutas para ser campeão, a chave do meio-médio era grande. Assim que abandonei o judô, abracei o Motocross, que virou meu esporte.
Só que, ao contrário do judô, o investimento era outro né? Dizem que para fazer uma pequena fortuna no esporte a motor, você precisa começar com uma grande fortuna… é caro.
Morongo era o mais talentoso de todos, o que andava mais bonito e técnico. Niva era grosso, andava feio, mas rápido. Boettcher era um meio termo. Ylton Veloso, que eu vi se acidentar mortalmente em Petrópolis, também andava bonito, mas não era tão rápido. Mas aí vieram os americanos e tudo mudou… mas eu conto em outro texto, se vocês implorarem.
Adorei o programa, adorei a homenagem ao Nivanor Bernardi. Eu o conheci pessoalmente e nunca o achei grande ou um touro como todos o chamam. Não era alto e nem excepcionalmente musculoso, mas era muito forte. Forte como um borracheiro, podemos assim falar.
Obrigado a todos os envolvidos, espero que os mais jovens aprendam alguma coisa com isso tudo e estou curioso pelos novos episódios.