The Martinator Campeão!

E hoje tivemos uma corrida burocrática, mas tensa, para definir o campeão do MotoGP 2024. Jorge Martin não precisava ganhar, de fato, bastaria chegar em nono lugar, no caso de Pecco Bagnaia vencer. O que aconteceu. Então, o terceiro lugar ficou de ótimo tamanho para hoje.

Não pense que é fácil. Há uma diferença enorme em ver estas motos andando ao vivo, e ver pela TV. São bestas barulhentas, aceleram de uma maneira assustadora, freiam com uma potência nunca vista nas ruas e estradas, e fazem curvas com uma velocidade que parece impossível. Chegar nesta categoria exige anos de desenvolvimento, talento e técnica. É correr em um fio de navalha e vimos que apenas Pecco, Marc Marquez e Jorge Martin viraram hoje na casa dos 1:40, ou seja, estavam correndo neste fio de navalha. Para eles é normal, mas a qualquer segundo, como bem sabe o Pecco principalmente, pode dar merda e a moto sair de baixo.

Como eu já disse em outros posts, a sensação do piloto é muito diferente daquilo que os editores de TV e filmes querem passar, com rock & roll acelerado na trilha sonora, som ensudercedor, calor, suor, vibração, emoção em recursos visuais e sonoros. Nada disso. O piloto, quando em paz com a pista e com a moto, navega em uma estranha sensação de paz, conexão e suavidade. Todas as atitudes na moto encaixam-se com harmonia em uma sequência que lembra uma sinfonia, e a concentração faz tudo parecer até silencioso. Não se deve brigar com a moto e a volta mais rápida é aquele em que tudo foi o mais suave possível, tudo encaixando-se sem nenhum atrito. É uma sensação que talvez somente quem pilotou qualquer coisa em uma corrida, pode concordar. E os pilotos de ponta, como são todos os pilotos no MotoGP, tem um controle na fração do segundo deste tempo de volta. Eles sabem tirar 0.05 se precisarem, e sentem a moto do concorrente, só de olhar andando por trás. São todos pilotos campeões.

Este ano venceu quem errou menos. Jorge Martin caiu muito menos do que Pecco. Além disso, Jorge mudou e assumiu menos riscos, correndo mais com a cabeça e gerenciando seus pontos. Deu sorte também, mas sem sorte, não se atravessa a rua, o caminhão passa por cima. Marcar zero pontos é igual a chegar em décimo sexto, não tem comparação com deixar de ganhar, quando o prejuízo, no caso do Martinator, era de no máximo 5 pontos, a diferença entre os 25 do primeiro e os 20 do segundo lugar. Jorge Martin mudou seu comportamento.

O Pecco também. Talvez por excesso de confiança, ou desejo de superar a impressão de que não é um piloto tão rápido quanto Jorge Martin, que tinha um histórico melhor nas Sprint Races, Pecco começou o ano arriscando mais e caindo mais. A GP24 não veio perfeita, como ele precisa e gosta. O novo pneu traseiro da Michelin trouxe problemas para a moto, que vibrava a traseira e a Ducati demorou algumas provas para acertar. Depois, como consequência, teve que vir arriscando sempre mais, pois quase sempre estava atrás nos pontos. Jorge Martin pôde se dar ao luxo de, como hoje, deixar o Pecco ganhar. Em diversas ocasiões.

Pecco Bagnaia também mudou. Hoje é um piloto mais rápido do que era, e esta temporada servirá como muito aprendizado para ele. Venceu 11 corridas das 20, venceu o mesmo número de Sprints que o “Rei das Sprints”, mas ainda assim ficou 10 pontos atrás no final.

Diferentemente de Fabio Quartararo, que não conseguiu gerenciar o fraco início de temporada do Pecco com a GP22, tamanha era a diferença técnica entre a M1 e a Desmocedici, Jorge Martin teve exatamente a mesma moto. E o mesmo patrão, pois o seu salário é pago pela Ducati, não pela Pramac. É um piloto oficial, correndo por uma equipe satélite. A Ducati não teria porque ficar muito chateada. É a sua GP24, são os seus técnicos, é o seu piloto. Ducati dominou a corrida final, com 1, 2, 3 e 4. Dominou o ano, vencendo todas, menos uma.

Nestas condições ele foi campeão. Seu relativo declínio no final da temporada, cedendo vitórias, poderá sempre ser creditado ao gerenciamento inteligente de pontos. Já se sabia que não precisaria mais ganhar para levar o campeonato, e então, prá que arriscar?

Merecido o campeonato, Jorge esperneou muito por ele. Brigou para ser piloto oficial, teve que enfrentar oposição fortíssima contra Enea Bastianini e Marc Marquez, não conseguiu, mas pôde contar com sua determinação, talento e velocidade para conseguir ser campeão da forma mais difícil. Mas vimos que não impossível. Impossível será vencer ano que vem com a Aprilia RS-GP 25. Para ser campeão novamente, salvo milagres, só voltando para a Ducati um dia na vida, porque até as japonesas se acertarem, até a Aprilia se acertar, acabou o seu tempo útil nos GPs, já será tempo de Acosta e David Alonso. Tomara que eu queime minha língua, mas é este o previsto.

Hoje, para nos divertir, vimos um pega sensacional entre Alex Marquez e Aleix Espargaró em sua corrida de despedida. O pau comeu. Aleix é um osso duro de roer, guardava bem as melhores linhas e parecia que a Aprilia tinha uma vantagem na freada, rebolando menos e mais equilibrada. Na reta também não perdia de motor, com Alex Marquez tendo que se virar para achar uma maneira de ultrapassar com a única vantagem que tinha, a aceleração. Não foi fácil, pois não adianta acelerar se o amigo está bem na sua frente né? E sair da linha significa perder mais tempo. A TV não mostrou, mas Alex teve que inventar alguma grossura para fazer esta ultrapassagem, ou Aleix errou. Foi bonito.

Parabéns também para a Pramac Racing, uma equipe muito competente, com alto astral e eficiência. Tomara que eles possam ajudar bastante a Yamaha. Admiro o trabalho daqueles que conheço na equipe, o ex-piloto Gino Borsoi e o capo, o milionário apaixonado pelo motociclismo, sempre sorridente Paolo Campinoti.

O resto da corrida eu nem vi, estava tenso olhando a ponta e a briga do Marquez.

As comemorações estavam todas produzidas e planejadas, Jorge Martin emocionado. Curti muito o fair play da Ducati Corse, com Gigi e Claudio Domenicali participando alegremente da comemoração da Pramac. Davide Tardozzi não foi visto, este deve estar puto.

Parabéns Jorge Martin, Pramac e Ducati. Ano que vem tem mais.

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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