Meus camaradas, mais um final de temporada emocional. Este campeonato de MotoGP é um grande barato. Não há uma temporada igual a outra, todas são únicas em seus dramas, em suas alegrias, em seus recordes, em suas politicagens. Ao longo do ano tudo pode acontecer e acontece! Todos unidos, as fábricas, os organizadores, os próprios pilotos e seus staffs, todos contribuem para que o campeonato seja sempre cheio de assuntos.
Uma coisa não mudou. Marc Marquez e Repsol Honda, campeões novamente. Tríplice coroa com o título de pilotos, de fábrica e hoje, equipes. Título que Marquez ganhou quase que sozinho, Lorenzo pouco pode ajudar. Que temporada! Marc bateu recorde de pontos, e tirando Austin, quando caiu de bobeira e liderando, só chegou em primeiro ou segundo. Ahaha e dizem, dizem, que não fez isso com a melhor moto, pois Yamaha e Suzuki fazem mais curvas e a Ducati é mais forte… Imaginem a Formiga Atômica então com uma moto boa e fácil de andar… O Team Repsol é infernal. Marc cai, pega a moto reserva, algo que já foi muito evitado, mas não faz diferença, eles conseguem dar 2 motos boas rapidamente para ele. Haja dinheiro e competência.
A corrida de hoje, com muitas quedas, deu o esperado pela análise dos treinos, Marc estava sobrando com a moto em condições de corrida. O único perigo seria uma largada com incidentes. Não teve, ele nem largou tão bem, a pista é apertada (tomara que Deodoro não seja assim), mas foi escalando na marra até chegar na ponta. Espremeu El Diablo, mas dentro do limite. Partiu para o abraço botando a moto de lado até a última volta. É incrível né, tem uma hora que parece que os pilotos estão estabilizados e respirando na pista. Amigos, não rola, é pau dentro o tempo inteiro, os respiros se medem em milésimos de segundo, que depois eles compensam arriscando um tiquinho mais em uma ou duas freadas. Rins, por exemplo, botou pressão o tempo todo sobre Dovi.
Também previsível pelos treinos foi a chegada de Quartararo em segundo. Este, chegou chegando e estabeleceu-se. Não tem defeitos conhecidos, ainda não o vi na chuva, pois larga bem, dá voltas rápidas, não é cai cai, é simpático, acessível, jovem, brigador. Como ele mesmo disse na entrevista do parc fermé, “muitos criticaram a minha escolha, dizendo que eu não merecia este lugar no MotoGP. 6 poles e 7 pódiums são a resposta, e agradeço a quem tomou a decisão de me escolher”. Mais qualidades, inteligente, franco. Merece uma moto de fábrica pelo conjunto da obra em 2019. Magnífica temporada do francês.
Miller fez ótima corrida e estava feliz demais por estar no pódium. Muitas conquistas para ele, sendo que a primeira é ter se mantido no pódium até o fim, realizando o resultado projetado nos treinos. Miller várias vezes este ano largou de boa posição, brigou na área de pódium até o meio da prova e depois foi perdendo posições. Ou gerenciou mal o uso dos pneus, ou sua moto não se manteve equilibrada para pneus gastos… algo acontecia e ele afundava para chegar em oitavo… novo… Hoje não. E fez melhor, pois chegou na frente da Ducati oficial de Dovizioso. E melhor do que Petrucci, com o qual disputa espaço na Ducati desde 2017. Um corridaço para ele, que bota lenha na fogueira das fofocas de troca troca de pilotos na Ducati. Muitos (eu inclusive) votaram mais nele para pegar a moto que foi de Jorge Lorenzo. Tomara que agora vá. A Ducati, até Dovi, precisam de uma motivação. Pode ser que Miller consiga dar este gás na equipe.
Juro que cheguei a espera uma prova melhor de Jorge Lorenzo, após ele treinar um tiquinho melhor, em uma pista que ele curte e já venceu. Mas necas, se arrastou lá pela rabeira e, sem cair, beliscou um décimo quarto lugar. Não dá para ele mesmo, tem um bloqueio impossível de ultrapassar. Pode ainda ser muito útil ao MotoGP, pois é experiente, querido. Nos últimos anos de sua carreira as apostas não deram certo. Largar a Yamaha que ele fez, após peitar Valentino Rossi e encarar o Reino de Domenicali foi bom para o bolso, mas quase liquidou sua carreira. Suas vitórias e bons resultados, finalmente conquistados na Ducati, deram um brilho que quase compensaram. A aposta em ser companheiro de Marc Marquez pareceu estranha desde o início, e assim permaneceu até o final. O Manto Laranja sagrado cai bem em um só, sempre foi assim, ele não se divide bem. Mas o que definiu foram os tombos e fraturas, que deram um clique em sua cabeça que custa mais de 1 segundo por volta. Assim não dava mais.
Virão agora os testes na terça feira e teremos um flash do que esperar para 2020. Novas motos, novas estréias de pilotos, esperamos que mais novidades sobre o mexe mexe que agora inclui Miller, Petrux, Zarco, Alex Marquez… e já tem mexe mexe para 2021!!! No final de 2020 absolutamente todos os contratos dos pilotos vencem, vai ser um troca troca digno do Francisco Horta (quem for velho e tricolor vai entender esta).
2019, apesar do domínio de Marc Marquez, foi uma boa temporada no geral. A organização do campeonato foi impecável. As transmissões quase perfeitas e completas. O SporTV crescendo na cobertura, com mais viagens, com mais imagens. Fausto e Guto aproveitando demais o investimento, pois deram um salto na qualidade das informações e intimidade com o assunto. Coisa que só a presença física e a calma de poder se dedicar com exclusividade conseguem trazer. A Suzuki evoluiu, a Yamaha viu luz, novos pilotos confirmaram suas velocidades, novos ídolos em formação. Ducati, Aprília e KTM não foram tão bem, vão ter que correr atrás.
Sem falar que em 2019 foi anunciado o GP do Brasil para 2022.
No finalzinho vou dar parabéns ao Eric Granado, que venceu as duas últimas corridas, disputando com um piloto de alto pedigree como Bradley Smith. Sensacional, na moral. Eric é rápido, precisa de consistência, precisa de uma chance sem defeitos, pois anteriormente sempre tinha um caroço atrapalhando. Na MotoE ele começou o ano como um dos favoritos, estava decepcionando, mas duas vitórias lindas como estas o catapultaram para o terceiro lugar no campeonato e mostraram para uma audiência qualificada, um bom desempenho. Mas está “no desvio”, a Copa MotoE não é o lugar normal de onde se pescam pilotos, ele vai ter que se mexer para achar um lugar “bom”, e no meio da piscina de pilotos (eu ia escrever mar, mas não é tão grande assim) progredir. Ele tem a vantagem da experiência. Ele tem a desvantagem da experiência. Ele tem a vantagem de ser brasileiro, em um momento em que o Brasil volta aos GP’s. Tem que batalhar para conseguir apoio brasileiro e estar em cima de uma moto no GP Brasil de 2022. A outra chance seria o piloto Meikon Kawakami.
Mário Barreto