E hoje finalmente, nas primeiras voltas, vimos uma corrida de motos propriamente dita. O pau comeu, pois Francesco Bagnaia obrigatoriamente teve que botar tudo na mesa. No poker “All- in”. É sua única chance de vencer este campeonato.
Com estes campeonatos excepcionalmente longos, mais de 20 provas, na verdade 40 se contarmos as Sprints Races, raramente há oportunidade para uma aposta alta destas em uma única corrida. Muito antigamente, quando tínhamos muito menos corridas, era pau o tempo todo, pois não existiam muitas oportunidades para recuperação.
Desde o seu vacilo na corrida de Buriram, Pecco não depende mais apenas dele para ser campeão. Poderia ganhar tudo, mas se Jorge Martin chegasse em segundo em todas, ele seria campeão. Ontem tudo piorou, pois ao cair, de segundo, atrás do Martin, Pecco zerou, Martin aumentou sua vantagem ao ponto de já ter uma chance de ter conseguido o título hoje. Pecco não tinha outro plano possível, era tudo ou nada.
Os domingos são o forte deste conjunto Pecco+Ducati Corse, tanto que esta foi a décima vitória na temporada. Eles vem se acertando durante o fim de semana e quando chega o domingo o Pecco recebe uma moto acertadinha para fazer o que sabe, largar na ponta, rodar acertadinho de cara para o vento e vencer. Largando da pole-position, o plano era fazer isto hoje, vencer, e torcer para que o Jorge Martin tivesse algum problema, de preferência caísse, e não chegasse em segundo. Plano difícil né? Pois Jorge Martin venceu ontem, e estava muito bem na pista.
E veio a primeira largada, com Jorge Martin largando um tico melhor, mas com Pecco vindo super agressivo para retomar a ponta. Porém, um feio acidente na largada envolvendo Fabio Quartararo, Brad Binder e Jack Miller, interrompeu a prova com bandeira vermelha. Fabio voltou mancando para o box, Miller saiu de ambulância e Binder pareceu sair inteiro. Mas não voltou para a corrida, na volta de aquecimento para o grid, Binder recolheu. Não sei se por problema na moto reserva ou nele mesmo. Não largou. Quartararo mancando largou e chegou em um excelente, para ele, sexto lugar no final. Miller não morreu, foi para o centro médico e foi visto (eu não vi) voltando andando para o box.
Veio a segunda largada e aí meus amigos… o pau comeu bonito!!! Desta vez Pecco largou melhor e fez a primeira curva na ponta, porém, Jorge Martin resolveu testar os nervos de todo o Mundo, do Pecco, de todas as equipes no box, de todos os espectadores, ao iniciar uma verdadeira guerra para pegar a ponta, arriscando tudo ou nada contra o Pecco, quando ele poderia simplesmente ter ficado comboiando em segundo, estaria ótimo. Trocaram de posição várias vezes na mesma volta, com ultrapassagens milimétricas, embutidos um na raba do outro, com ambos arriscando um toque, um tombo, um erro, em todas as curvas do circuito. Não tínhamos visto isso ainda, uma batalha direta entre os postulantes ao título. Eles sempre brigavam de longe.
Hoje vimos que temos dois pilotos que merecem demais serem campeões. São mais rápidos do que todos os outros, incluindo Marc Marquez, e sabem brigar. Dominaram a temporada e por este motivo vão decidir na última etapa. Jorge Martin evoluiu muito desde 2023, tirou proveito de ser quase sempre melhor no sábado, somando até aqui muito mais pódiuns do que o Pecco, se somados sábados e domingos. Para os domingos, onde Pecco o está surrando em número de vitórias, com 10×3, geralmente ele cede apenas 5 pontos, chegando em segundo, e esta estratégia o colocou 24 pontos na frente. Mais pódiuns, menos tombos.
Tivéssemos um campeonato mais curto, teríamos um faturamento menor para a Dorna, teríamos um campeonato menos cansativo para nós e para os pilotos, mas teríamos corridas mais emocionantes.
Hoje, após as duas voltas nas quais descobri que consigo ficar uma volta inteira quase sem respirar, Pecco abriu um tiquinho, pois após tirar a pressão e ver que ela estava altíssima, Jorge Martin não foi burro e tirou a mão… para ele basta chegar em segundo. E ele tinha um trunfo, pois escolheu largar com dois médios, e Pecco, sabendo que teria que brigar desde o início, escolheu um macio para a sua roda dianteira.
Marc Marquez, que vinha de língua de fora tentando acompanhar os ponteiros, caiu de terceiro, dando ainda mais tranquilidade para o Jorge Martin, pois La Bestia nesta hora já estava a mais de 4 segundos dele. Marc voltou atrás do Morbidelli, que também vinha fazendo uma boa prova e também caiu, e recuperou-se para marcar uns pontinhos e permanecer em terceiro no campeonato, mesmo com o pódium do Enea Bastianini.
Faltando 6 voltas a vantagem do Pecco era de uns 2 segundos e Jorge Martin iniciou um ataque para saber se tinha pneus para chegar perto. Tirou bastante, 0.6 em apenas uma volta e meia, mas quase caiu, deu uma escorregada braba na curva derrubadora, a 9, e imediatamente desistiu, porque ele não é besta. Pecco abriu a última volta com 2 segundos e meio de vantagem e aí foi só trazer a moto para o box.
Certamente foi a melhor corrida do ano, que provou que não é a aerodinâmica, ou pneus, ou qualquer outra característica das motos que impede os pegas. Eles podem acontecer, se os pilotos assim desejarem e forem obrigados. O longo campeonato os impede.
Parabéns ao Pecco pela linda corrida de hoje. Parabéns ao Jorge Martin pela linda corrida e pela coragem. Que venha a grande final.