Uma Ducati ganhar em Mugello é praticamente obrigação desde que a fábrica de Bologna lançou a Desmosedici GP17: um canhão que desaparecia no retão da pista italiana. Dovi ganhou em 17, Lorenzo em 18, Petrucci em 19. Houve um hiato em 2020, e o Bagnaia não ganhou em 21 porque caiu. O triunfo deste ano foi uma dupla redenção das quedas de 2021 e da queda em Le Mans, há duas semanas e consolidou a ascensão do piloto italiano no campeonato.
A classificação em uma pista úmida resultou em uma primeira fila heterodoxa: dois rookies nas primeiras posições, o que não acontecia desde 2008 no Qatar, quando Jorge Lorenzo e James Toseland alinharam suas Yamahas em P1 e P2. Foi uma bela homenagem ao Rossi, que teve seu número retirado neste fim de semana, e viu suas duas motos na primeira fila. Na pole, a outra Gresini, do talentoso, mas ainda verde, Fabio Di Giannantonio, que teve a vantagem de disputar o Q1 e estava familiarizado com as condições da pista.
Esse grid deu uma dinâmica especial para a prova, pois os pilotos de ponta tiveram que ultrapassar essa barreira de pilotos rápidos, mas ainda inexperientes, que acabaram em P5 (o ótimo Bezzecchi), P6 (o razoável Marini) e P11 (o outro Fabio).
Bagnaia venceu, como esperado, mas a prova foi um pouco mais lenta do que a de 2021, provavelmente pela cautela e o receio de uma nova queda. Na minha opinião quem sai consagrado de Mugello é o atual campeão, Fabio Quartararo. O francês está pilotando MUITO, fazendo a Yamaha andar como nos bons tempos do Vale e do Lorenzo. É impressionante o domínio que ele tem sobre a frente da moto, e o fato dele ter colocado 20s no Morbidelli e 30s no Dovi não dá à Yamaha uma alternativa que não seja abrir os cofres e despejar um caminhão de dinheiro em Nice para continuar colecionando troféus e títulos.
O fim de semana foi também muito bom para a Aprilia, que obteve mais um pódio, renovou com a sua dupla de pilotos (e o Viñales deveria dar uma comissão ao Aleix, que brigou para tê-lo no time) e assinou com a WithU RNF para colocar mais duas motos no grid em 2023. Em entrevista, o Razlan Razali disse que quer ter um piloto experiente e um mais novo na equipe, e vai ter muito cachorro grande brigando pra sentar-se nessa Aprilia.
Há vários pilotos com vitórias na categoria procurando emprego: Miller, Miguel Oliveira, Rins e Mir. Outros menos cotados também estão procurando acento para 2023, como o Pol, Alex Márquez, Nakagami e Raul Fernandes, que caiu em desgraça com o Hervé Poncharal. Remy Gardner também não tem contrato, mas o francês escolherá o australiano se tiver que optar entre seus dois pilotos. Dovi vai se aposentar e o Darryn Binder, que não está fazendo feio, considerando que anda em uma Yamaha desatualizada, vai sofrer a mesma injustiça que o Lecuona: deve ir para outra categoria.
A KTM ofereceu ao Miguel uma vaga na Tech3, o que não acho justificável. Nem ele. Certas equipes têm seus queridinhos, como é o caso KTM/Binder e Ducati/Bagnaia. Seus companheiros de equipe têm que remar o dobro se quiserem reconhecimento e quem ocupar essas vagas precisa estar consciente disso. Miller e Pol disputam a vaga da KTM, Bastianini e Martin a da Ducati. Martin está sofrendo com um problema que afeta sua mão direita e será operado depois da corrida de Barcelona. Bastianini vinha bem na corrida, mas caiu quando chegou na Aprilia do Espargaró, porque o espanhol freava antes do que a Bestia esperava. Para não encher a traseira da Aprilia, travou a roda dianteira e perdeu pontos importantes para o campeonato.
Esse é um esporte de muita precisão e concentração e eventos fora das corridas afetam muito o desempenho dos pilotos. Vejam a Suzuki, por exemplo: seus dois pilotos caíram nas duas corridas seguintes ao anúncio da sua saída do campeonato. Não é coincidência. O Miller, que ficou fora do Q2 por ter puxado Márquez e Diggia, sumiu na prova: chegou em um distante 15º.
Zarco repetiu o quarto lugar de 2021 e continuo achando que ele está muito tímido para ultrapassar outras Ducatis. Ele era criticado por ser muito agressivo na Moto 2 e até nos primeiros anos de MotoGP. Não há um campeão que seja delicado. Taí o Pedrosa para comprovar a regra: supertalentoso, mas sem o físico para disputar espaço nos cotovelos. Parece que a renovação do francês com a Prima Pramac está bem encaminhada, mas eu acho que ele está devendo, pois tem moto para conseguir resultados melhores. Sem contar que ele sempre perde posições na largada, o que demanda muito mais esforço durante a corrida.
E MÁRQUEZ VAI PARAR
Era evidente que o octacampeão não estava à vontade nessa nova Honda, mas os boatos que rolavam sobre seus problemas físicos se confirmaram. O úmero direito está rotacionado, o que causa dores e limitações de movimentos. Segundo o próprio, ele cogitou operar o braço quando teve o problema de diplopia, no final de 2021, mas o osso ainda não estava bem consolidado. Agora os médicos não só deram sinal verde para a cirurgia, como disseram que era inadiável. E a Honda, que já é a última no campeonato de construtores, vai ficar dependendo de um desanimado Pol Espargaró e do Bradl, que há tempos não tem a velocidade que o levou a ser campeão da Moto 2. Tempos sombrios à frente…
Resta torcer para que a cirurgia, que não é simples, seja bem-sucedida, e que o MM93 reencontre o prazer em correr.
Ainda bem que tem Barcelona no próximo fim de semana.
Estou apostando no Quartararo!
Até lá
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