Usando o elmo do Cipião!

Está no hino da Itália:

Irmãos da Itália
A Itália acordou
Usando o elmo do Cipião
Envolto em sua cabeça
Onde está a Vitória?
Se coloque em reverência
Pois, escrava de Roma
Deus a criou

Públio Cornélio Cipião Africano foi um dos maiores generais romanos de toda a história. Ao derrotar o também incrível general Aníbal cartaginês, deu um fim as guerras púnicas, por isso está no hino italiano. Hoje Pecco, usando um elmo Suomy, deu um fim na batalha do MotoGP 2023.

Francesco Bagnaia não teve que que ir a África, mas venceu na Espanha, casa de seu adversário Martinator. E venceu ao seu estilo, com relativa calma, com planejamento com confiança. Apesar do impulso e da velocidade de Jorge Martin, Pecco venceu mais corridas, marcou mais pontos, errou menos, foi campeão com justiça.

Eu torcia para Jorge Martin, a psicologia deve explicar isso… temos a tendência para torcer para o mais underdog. A equipe oficial, tem mais recursos, as motos são iguais, mas a moto do Bagnaia certamente é mais igual do que as outras. Jorge Martin fez um incrível campeonato, principalmente no final do ano, mas Pecco soube manter a cabeça no lugar e segurou bem a pressão, que foi grande.

Este fim de semana foi um exemplo de como a Ducati Corse e Pecco trabalham, e também como Jorge Martin e Pramac trabalham. Como sempre, Pecco começou lento nos treinos, preferindo pegar dados e preparar sua moto para o GP. Quase como sempre, Pecco não foi tão bem como Jorge Martin na Sprint Race, contou com a camaradagem dos outros ducatistas e limitou a perda de pontos. Mas na corrida principal chegou inteiro, sua moto muito boa, largou para a ponta, cedeu para as KTM quando podia ceder, recuperou a ponta nos erros de Binder e Miller e venceu com categoria, fechando as portinhas para um Diggia novamente encapetado.

Já Jorge Martin correu como Martinator. No ataque o tempo todo, treinou tentando ser pole, correu uma Sprint Race no tudo ou nada, e venceu. Sua única chance hoje era vencer e torcer para que Bagnaia chegasse depois de quinto. Não era assim tão inviável, visto o que andaram Diggia, Zarco e as KTM. Mas hoje não pôde culpar pneus, nem ninguém, ele mesmo se afobou e acabou com as suas chances. Primeiro, errou na sua primeira tentativa de apertar Pecco, sendo talvez sugado pelo vácuo, perdeu o ponto de freada e por um triz não caiu levando Pecco com ele. Foi lá para trás e na recuperação errou novamente, deu uma porrada no Marc Marquez e foi para o chão. Acabou ali o campeonato. Pecco bicampeão.

Meu amigo e colunista André Bertrand mandou mensagem de Londres: “Pecco é cagão!”. Também é. Sem sorte, não se atravessa a rua, o caminhão atropela. Se Martinator passa Pecco e fica lá, ele vence. Se Binder, Miller, Diggia e Zarco passam pelo Pecco, ele chegaria em sexto e Martin seria o campeão. Tudo isso poderia ter acontecido hoje. Binder e Miller efetivamente passaram Pecco. Diggia e Zarco não passaram por muito pouco. Mas Jorge Martin errou, Binder errou, Miller caiu, Diggia e Zarco erraram suas contas por apenas uma volta e não conseguiram passar. O resultado então foi este, Pecco vencendo a última corrida, vencendo mais na temporada, errando menos, sendo campeão e sem contar com a ajuda do Enea, que este ano foi quase um zero a esquerda.

A corrida de hoje foi boa. As KTM andaram bem, Marc Marquez repetindo a mágica com a sua Honda até ser porrado, as Aprilias caindo de rendimento do meio para o fim e no final, novamente um pódium só de Ducatis. Duas GP23, uma GP22. Li uma entrevista do agora bicampeão dizendo que as GP22 são definitivamente melhores do que a GP23 no início das curvas, mas piores do meio para o fim. É uma moto quase no mesmo nível. Terça feira veremos as GP24… tomara que elas sejam uma mistura boa da 22 com a 23. Um tal de Marc Marquez torce para que não, torce para que elas precisem de um monte de ajustes, para ele começar o ano com uma GP23 melhor do que a GP24.

Última corrida do ano para Pecco, que conquista o campeonato vencendo a corrida… melhor impossível. Última corrida de Gresini Ducati para Diggia, que tem motivos para estar feliz, mesmo com a indefinição quanto ao seu futuro. Última corrida de Pramac Ducati para Zarco, que despede-se da equipe com um pódium, entregou uma vitória e fez da Pramac a melhor equipe do ano. No geral e entre as independentes. Pramac fez barba, cabelo e só faltou o bigode, que seria o título dos pilotos.

Pecco, mesmo não sendo carismático ou simpático como outras estrelas do MotoGP, segue construindo seu caminho nas histórias dos GPs. É agora tricampeão do mundo, mais dois e pega o Lorenzo. Está bem posicionado para isso, pois com o seu estilo, cerebral e previsível, errando pouco, quanto mais ele anda e é campeão, mais perigoso fica.

Tivemos um campeonato longo, diferente e muito do que esperávamos, não aconteceu. As Aprilias não chegaram junto, nem as KTM. Honda e Yamaha estão condenadas a gramar mais um ano no mínimo, para voltar a serem protagonistas. Isso não é nada demais, a Ducati sofreu anos até conseguir chegar onde chegou. E este papo de que tem muita Ducati também não cola comigo, tivemos anos no passado em que correram 13 Suzukis, 10 Yamahas… e tudo bem. Estamos em uma época diferente, eu sei, mas o sucesso da Ducati é merecido, investiram na inovação, no trabalho. Desde 2015 inventaram um novo tipo de moto e tiveram que inventar também um novo tipo de piloto.

Este é o desafio que Marc Marquez vai enfrentar. As motos mudaram, um novo tipo de piloto é necessário. A janela está fechando rapidamente e ou ele aprende a pilotar desde novo jeito, ou acabará para ele. Como acabou para Rossi, para Lorenzo, para Dovi. Rossi dominava um jeito de correr de moto que foi progressivamente mudando e onde Lorenzo, Stoner e Marc Marquez tomaram a frente. Agora já está mudando de novo. Quase todos os recordes foram batidos em todas as pistas. Estes moleques não tem 6 títulos mundiais nas costas, mas viram rápido, já cresceram no mundo das ECU com milhões de programações, sistemas de abaixar a moto e asas aerodinâmicas. Terá Marc a capacidade de se adaptar neste novo mundo?

Terça feira começam os treinos com o troca troca de pilotos. Marc provará a Ducati e se andar bem e for para as cabeças não será nada do outro mundo. Casey Stoner fez isso no passado… largou a Ducati, subiu na Honda e fez melhor tempo imediatamente. Zarco irá sofrer na Honda, Rins irá sofrer na Yamaha. Morbidelli dará sorrisos na Pramac. Acosta eu torço para chegar em último. Diggia não sabemos ainda, mas Paolo Ciabatti prometeu uma moto para ele treinar na terça… veremos. Estou curioso para saber como será o macacão e a moto do MM… será preta com um RedBull enorme?

As transmissões das corridas foram boas. Muito cansativas, porque espalharam treinos e corridas importantes por todo o fim de semana. a tensão começa na sexta. Espero que meu amigo Fausto Macieira tenha negociado um aumento em seu salário, está trabalhando muito mais. O Hamilton é muito bom no controle da transmissão e a Juliana Tesser também muito boa. O motociclismo é um clube do Bolinha e os fabricantes estão sem muito sucesso e competência, tentando maneiras de atrair mais mulheres para o motociclismo. É um mercado enorme, mas eles não sabem, até agora, como fazer isso. A presença competente da Juliana é um bom passo. Ela estuda, lê, faz comentários bons e pertinentes. Nem Jesus teve unânimidade, tem gente que não curte, mas eu curto. Quanto ao Edgar eu o acho dispensável, não agrega nada. É uma estrela do passado no automobilismo, reconheço e valorizo o seu trabalho do passado, não assisto o atual no automobilismo, mas no MotoGP não faz um trabalho relevante e eu acho que atrapalha.

É isso, parabéns toda a equipe Ducati pelo ano maravilhoso, parabéns para todos os pilotos e todas as equipes, menos a Honda e a Yamaha. Terça feira começa já o campeonato de 2024, nem dá para descansar!!!!

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestras em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. É Mestre em Artes e Design pela PUC-Rio. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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